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Esse sonho pode nunca acontecer

Exposición / Galería Lume / Gumercindo Saraiva, 54. Jardim Europa / São Paulo, Sao Paulo, Brasil
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Cuándo:
17 jul de 2021 - 25 sep de 2021

Inauguración:
17 jul de 2021 / 11 a 18 h.

Precio:
Entrada gratuita

Organizada por:
Galeria Lume

Artistas participantes:
Gabriella Garcia

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Descripción de la Exposición

História, farsa, repetição Sabe-se que na pintura renascentista, o ideal de uma grande obra de arte era que seus vestígios de feitura não ficassem evidentes, como se a imagem fosse simplesmente uma aparição que não tivesse passado pela mão do pintor, ou seja, partindo da ideia de que ali não havia sido utilizado nem pincel, nem tinta em sua execução. Em algumas pinturas, no entanto, as camadas de tinta foram ficando mais transparentes com o passar do tempo, deixando que algumas imagens subjacentes à tela se tornassem visíveis. Dessa forma, ao revelar as alterações de formas e composições destas representações pictóricas, as mudanças de ideia do pintor se faziam visíveis, fenômeno que em pintura é chamado de pentimento. Pentimento (pentimenti) é uma palavra de origem italiana que está ligada à ideia de arrependimento. Nos trabalhos apresentados em sua exposição individual, Gabriella Garcia elabora um conjunto de pinturas e esculturas que lidam, a princípio, com a ideia da gestualidade e a própria fatura do objeto de arte. Não obstante, a artista recorre ao que há de mais acadêmico e clássico na arte - seja em materialidade ou suporte - para justificar uma história oficial que já foi dada. Mas engana-se quem acha que as escolhas estéticas de Gabriella corroboram para a reiteração de um pensamento hegemônico. Ao observarmos a teatralidade empregada em seus trabalhos, começamos a perceber que ali todo gesto pode estar sendo encenado, e que as camadas podem esconder nuances que os olhos não veem. Assim como no ideal renascentista, a artista cria objetos que guardam “arrependimentos” em si. Se observarmos a história da dramaturgia, atentamos que, a exemplo de outras realidades do universo da humanidade, certas práticas e certas características aparentemente se repetem. Se prestarmos mais atenção, contudo, vamos descobrir que elas se repetem falsamente, ilustrando uma afirmação de Karl Marx de que a História acontece duas vezes, “a primeira enquanto tragédia, e a segunda enquanto farsa”. No latim, a palavra farsa implicava o sentido de recheio (farcire). A palavra foi utilizada sobretudo no teatro, desde a Grécia, e ganhou especial relevo na Idade Média, enquanto um gênero específico de espetáculo. Se o sentido mimético do espetáculo tinha a ver com a imitação de uma determinada ação, a farsa pressupunha um recheio,ou seja, acréscimos, e tinha a ver com as máscaras que originalmente eram realizadas com esta denominação. “Recheava-se” o personagem ou a situação original, acrescentando-lhe detalhes e elementos. Com que fim? Com a finalidade da crítica, sendo assim, tal recheio ampliava em lupa a qualidade ou a característica do personagem ou da situação, com o fito de, aumentando-a, torná-la mais visível e, em consequência, mais evidente. Ao trazer todas essas nuances de farsas e arrependimentos em seus trabalhos, a artista tensiona o poder narrativo que as imagens criaram no mundo e o quanto mais se torna extremamente urgente e necessário questioná-las, para que a história não se repita enquanto uma tragédia ainda maior. Se, no espetáculo a farsa servia como uma espécie de crítica e de mofa para os que ela assistiam, atuando, assim, com uma função social de moralidade; em sua exposição, Gabriella Garcia nos coloca como espectadores de uma história cheia de falhas e, por isso, de camadas que escondem suas reais intenções. Agora basta saber como agir diante delas. Enxergar que o mundo tal qual como conhecemos não passa de uma mera ilusão construída pode ser doloroso, mas essa ruptura também não nos serve como potência para reimaginar o futuro? - CAROLLINA LAURIANO


Entrada actualizada el el 24 ago de 2021

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