Descripción de la Exposición
Confinamento. O ano de 2020 e a crise provocada pela pandemia de Covid-19 obrigou uma boa parte da população mundial a fechar-se em casa. Os dias pareceram meses e as semanas pareceram anos para os que se viram forçados ao encerramento compulsivo. Mas o que diriam aqueles que vivem em confinamento toda a sua vida? Um confinamento diferente, é certo, mas um confinamento na mesma. Este é um desafio que nos poderíamos colocar ao pensar no bairro piscatório de Espinho. Com a geométrica organização que caracteriza a cidade, as paralelas e perpendiculares ruas que fazem o bairro encontram-se cercadas por todos os lados. Como que se de uma aldeia gaulesa cercada pelos romanos se tratasse, o bairro piscatório de Espinho resiste.
Sair. Entre o campo de golfe, a linha de caminhos-de-ferro, o mar e uma abandonada fábrica de conservas, o bairro vive num permanente recordar da sua condição. Longe do luxo, frente a uma indústria que, em lugar de se reinventar, arredou pé, sem comboio para apanhar, sobra o mar. Mas também o mar, elemento constituinte e construtor da alma do bairro, parece ter abandonado aqueles que dele viviam. Um bairro de pescadores que quase não se podem fazer ao mar. Os que o fazem, têm à sua espera apenas a incerteza e a precariedade. Resta sair, em direção ao Porto ou a outros locais onde os grandes barcos se abram para estes filhos de gerações de pescadores.
Ficar. O que espera então os que ficam no bairro? O que espera os que nascem neste bairro confinado? Não apenas confinado fisicamente, mas também ao nível das oportunidades, das possibilidades, das portas que se poderiam abrir mas que, desde cedo, se fecham aos filhos do bairro? Essa é a questão com que as mulheres e homens que ficam se colocam em permanência. Olhá-los nos olhos e vê-los nas suas casas, nos cafés, sentados nas ruas que calcorrearam milhares de vezes, deitados no areal que tão bem conhecem, desvela um pouco das suas vidas e das suas razões para ficar.
Resistir. Não se pense, no entanto, que esta é uma história de resignação. Pelo contrário, esta é a história daqueles que, nascidos na adversidade, se revoltam e resistem. É a história daqueles que, perante as portas que se fecham, constroem novas vias. Não fossem estas mulheres e homens, filhas e filhos, netas e netos de pescadores que, em tempos bem mais adversos, se atreveram a navegar no mar das incógnitas. E, quem sabe, talvez deste confinamento forçado saia uma nova resistência.
Jorge Pinto
Maio de 2020
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Vincen Beeckman (1973), residente em Bruxelas, alimenta-se dos universos que percorre e que o movem na sua prática. Colaborando intensa e tão frequentemente quanto possível com os personagens que preenchem as suas imagens, permite-se também ele ser modelo, ou formar uma dupla narrativa com eles. Imerso na sua atividade, dentro de grupos, muitas vezes posiciona-se como fio condutor de um acervo fotográfico em construção. No projeto Cracks, por exemplo, Vincen Beeckman usou câmaras descartáveis em colaboração com os sem-abrigo da Estação Central de Bruxelas.
O seu trabalho foca a fragilidade da vida humana e a energia positiva que pode ser descodificada ou injetada nela. Como criador de projetos inusitados como La Fusée de la Motographie ou La Pêche aux Canards Belge (Arles, 2019), também sabe como se distanciar de uma imagem e reunir histórias míticas ou realistas por meio de outros meios, como som, texto, fazer geléia, ou ainda, danças do chá...
Outro talento notável: Vincen é um fã de minigolfe!
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España