Descripción de la Exposición
Porque chora Eros? Uma pergunta à qual Bataille não quis (ou não soube) responder, esforçando-se por prolongar a insondabilidade dessa entidade-força, da sua mística e da sua tragédia. Sempre enevoada a certeza de uma resposta – e daí toda a sua latência e atracção – posso, contudo, arriscar que é por chorar que Eros pode saber-se corpo e participar assim no corpo de outros, nos corpos do mundo, vertendo-se, em lágrimas, da sua altura de deus para o plano dos mortais, esses que verdadeiramente nada compreendem sobre a existência que os anima. Assim o ser de Eros se desfaz noutros rios, noutros corpos, tudo diluindo e misteriosamente aproximando. E assim também o nosso: “um corpo, um rio”, como o sabia Eugénio de Andrade. Um corpo que, intimamente ligado a esse primordial rio de lágrimas, irrompe pela terra – reino das imagens -, enigmaticamente fustigado pelo movimento das suas correntes. É nessa terra que se desenha, que se define em paisagem, trespassando as imagens que também o trespassam e largam nele, como memória, os seus sedimentos. O leito e as margens desse rio, que o moldam e por si são moldados, são o registo da sua passagem. Sempre tensa, ainda que irreprimível (aí está a sombra de Eros), por vezes violenta, outras, calma, feita de ondulações inconstantes, declives inesperados e redemoinhos momentâneos.