Descripción de la Exposición ------------------------------------------------------- -------------------------------------------------------
Dos mapas em ruínas Em um conto brevíssimo mas inspirado, Borges lembra do mapa de um império que alcançava o exato tamanho do império, coincidindo ponto por ponto com ele, mapa e império, império e mapa, em uma inesperada escala de 1 para 1. Esse delírio cartográfico, passadas algumas gerações, revelava-se inútil e terminava abandonado nos desertos, entregue às inclemências do Sol e dos invernos. O relato, de alguma forma, dá conta do fracasso não apenas desse mapa desabusado e imenso, mas, de modo geral, de qualquer sistema de representação: quase sempre aquém, desgraçadamente fadado à imperfeição, no mais das vezes inútil. Eis aí, suponho, um dos vetores conceituais deste Ensaio sobre uma ordem das coisas, de Marina Camargo. Marina sabe da imprecisão e das falhas das nossas representações – sejam elas artísticas ou científicas, geográficas ou históricas, ancoradas em textos ou imagens, ou mesmo em ambos. Tente você mesmo: pegue dois mapas iguais, que correspondam precisamente às mesmas fronteiras e que sigam exatamente a mesma escala. Agora sobreponha um ao outro. Nunca hão de coincidir. Pergunte-se ainda: como transpor, de modo fiel e reconciliável, o relevo da Terra à circularidade do globo? A curvatura do globo à planaridade do mapa? Ocorre que a artista, antes de lamentar esses infortúnios, trata de saboreá-los. Tanto o rigor quanto o insucesso das representações são aceitos e bem-vindos. Acontece ainda que, nesta nova série, essa primeira percepção se combina ao gosto pelos mapas como objetos, como disposições coordenadas ou itens de coleção, papeladas que se dobram e se desdobram, com seus códigos próprios, suas grades particulares, sua linguagem consensual. Tudo disponível como matéria para o desenho. Basta reordenar. Os mapas, por fim, despontam como depoimentos gráficos – de incontornável pendor político – sobre territórios já definidos e já percorridos, ou a serem conquistados e reconhecidos, desejados. Marina recorta os mapas, remonta as geografias, aponta para os vazios que, mesmo sem querer, podem revelar uma presença. Os mapas, como queria Borges, subsistem como ruínas. Eduardo Veras (Crítico e historiador da arte, professor do Instituto de Artes da UFRGS)
Exposición. 12 nov de 2024 - 09 feb de 2025 / Museo Nacional Thyssen-Bornemisza / Madrid, España