Na Galeria do Oriente Islâmico do Museu, uma pequena mostra explora o papel da caligrafia na transformação de objetos utilitários em fontes de prazer, conhecimento e prestígio para os seus proprietários, em momentos de refeição.
A partir do século VIII, pelo menos, a palavra escrita tornou-se uma característica importante das artes ligadas à vida quotidiana no mundo islâmico. A escrita árabe começou por ser utilizada para veicular a Palavra de Deus na língua árabe, e, mais tarde, a língua persa recorreu à mesma caligrafia. Investigações recentes sobre a cerâmica iraniana medieval, de que apresentamos alguns exemplares nesta pequena mostra, têm revelado que as inscrições que decoram as peças contribuíam para animar as refeições e intensificar as emoções: louvando a generosidade do anfitrião, concedendo bênçãos e despertando ou apaziguando profundas paixões e sentimentos amorosos. A interpretação destes poemas revela temas que vão do erótico ao Amor Divino. Na língua persa, «amante» e...«amado» são de género neutro, o que permite também a ambiguidade entre os sexos.
As taças e tigelas com figuras humanas que estão em exposição seguem o mesmo esquema decorativo e concedem bênçãos aos seus proprietários. Uma destas taças está assinada, trazendo também para a mesa o nome do seu criador, enquanto outras peças apresentam poemas de poetas célebres, que conferem aos seus proprietários um elevado grau de prestígio literário.
As taças com decorações abstratas apresentam poemas de amor. Durante a refeição, os convivas podiam ler essas palavras em voz alta, erguendo as delicadas peças contra a luz e fazendo-as girar no sentido dos ponteiros do relógio, intensificando desse modo, com um momento de apaixonado drama, os prazeres sensoriais envolvidos na partilha de alimentos aromáticos, vinho, música e conversa íntima.
Um agradecimento especial ao Professor Andrew Peacock da Universidade de St Andrews, Escócia.
Entrada actualizada el el 10 abr de 2023
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