Descripción de la Exposición
No livro Painting Now, publicado neste ano de 2015 pela Thames & Hudson, Suzanne Hudson, afirma “A pintura é um meio em constante expansão e evolução. As mudanças radicais ocorridas desde a década de 1960 e 1970 - o período que assistiu à mudança da linguagem visual modernista para pós-modernista - levou à sua revitalização como uma prática, emprestando-lhe uma energia e uma diversidade que persistem até hoje”[i]. O olhar retrospetivo dos diversos momentos apocalípticos com que a pintura foi confrontada, as dificuldades históricas da sua sobrevivência face aos desafios de outros mediums que prenunciaram o seu possível esgotamento e decesso, remete-nos incontornavelmente para a ideia de Progresso! A pintura não morreu, apenas os pressupostos canónicos do que uma pintura foi ou poderia ser e qual é ou pode ser o papel do artista pereceram perante as transformações sofridas.
Desde 1839, por altura do nascimento do daguerreótipo, que o pintor francês Paul Delaroche terá proferido a lendária frase “A partir de hoje, a pintura morreu”, com base no seu conceito de pintura como mimetização do real. Nos anos de 1960, Ad Reinhardt alegou estar a criar as últimas pinturas que alguém poderia fazer. Por fim Arthur C. Danto decidiu declarar “A Morte da Arte”, mas aquele que parecia ser um golpe derradeiro a todos os níveis, não foi mais que um ponto de rutura para a (re)interpretação da arte, uma vez que a questão centrava-se na narrativa e na definitiva alteração do seu curso, face ao paradigma que Vasari ajudou a definir para a arte no período da Renascença. Abriu-se então um novo caminho. O Turner Prize, surgido em 1984 começou por distinguir pintores. Quase dois séculos depois de Delaroche, continuamos a assistir ao aparecimento internacional de inúmeros artistas que escolhem a pintura como seu meio preferencial de expressão artística.
Progresso traduz a ideia de “avanço”. Esse movimento para diante que pressupõe em termos filosóficos a evolução da marcha no sentido do desenvolvimento, de uma mudança evolutiva, teve forte expressão no século XX, em particular devido ao modernismo que o promoveu para se destacar do que considerava ultrapassado. Ainda que nos dias de hoje, o conceito de Progresso possa transportar um cunho passadista, na sua essência contém o paradigma do que está em aberto, do que abraça o advir.
Ana Cardoso, trabalha no provir da pintura não apenas como medium, como técnica, mas como post-medium. A Ação deixa de ser apenas a do momento de pintar para passar a explorar as partes que compõem a pintura, ou melhor o processo de considerar individualmente cada elemento, a técnica, o suporte e a matéria, como partes iguais do processo.
O trabalho apresentado no MNAC é composto por um painel de 8 partes que se integra na parede através de uma relação cromática e de elementos de desenho.
O painel é composto por 8 telas, 4 em formato de paralelogramo com tonalidades entre o salmão e o vermelho ferro e 4 em formato de losango de outra gama de cor, que varia entre um lilás acinzentado e um cinzento malaquita. A parede retangular que recebe o painel, ao ser pintada numa cor afim às utilizadas nos elementos do painel, passa também a ser parte integrante do próprio trabalho de pintura, funcionando como suporte base que incorpora os restantes elementos geométricos. Os losangos correspondem no seu tamanho a metade dos lados maiores do paralelogramo e são dispostos em alternância, criando um jogo de linhas diagonais, podendo o último elemento estar deslocado do seu conjunto. Há o objetivo de criar com essa sequência a ilusão de uma fita que mostra a frente e o verso, ao desdobrar-se na parede, ocupando-a de forma maioritária, porque como diz Ellsworth Kelly, “O negativo é tão importante como o positivo” (“The negative is just as importante as the positive”).
As telas trabalhadas de forma modular e autónoma, afirmam num primeiro momento a monocromia, o geometrismo, a abstração que caracterizam o trabalho desta artista. Está igualmente presente outra particularidade frequente nas obras de Ana Cardoso, o interromper a lógica estabelecida com um elemento que se desloca da sequência e se autonomiza, como que a preludiar um novo trabalho. Na verdade, são necessários múltiplos para formar uma imagem, mas cada tela é uma pintura independente, podendo ser reorganizadas e re-instaladas por forma a criar um novo conjunto, uma nova peça.
Em interligação dos diferentes elementos surge o desenho com ténues linhas que evocam redes, páginas digitais, etc., só quando nos aproximamos percebemos o subtil pormenor de uma narrativa.
Nas palavras de Ana Cardoso: “para mim cada pintura é um elemento de uma proposição infinita, tornando o processo da pintura contínuo”. Uma postura pluridisciplinar que torna mais amplo o campo da pintura e a sua relação com a história, cada nova proposta inscreve-se como um contributo intermédio por forma a “instigar o progresso”.
Adelaide Ginga
Exposición. 24 oct de 2015 - 29 nov de 2015 / MNAC-Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado / Lisboa, Portugal
Exposición. 24 oct de 2015 - 29 nov de 2015 / MNAC-Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado / Lisboa, Portugal
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