A exposição “É por isso que me lembrei do passado, por ter medo do futuro…” de Vasco Araújo apresenta obras que exploram relações de poder, dependência e submissão, quer enquadradas pelos contextos familiar/doméstico e social, como sustentadas em noções de exotismo e alteridade.
O título da exposição remete-nos imediatamente para o sentido de recordação e memória, afectados com uma carga negativa pela herança de um passado relacional. Neste sentido, o discurso oral e escrito apresenta-se como o meio pelo qual personagens e objectos materializam conflitos internos, reflectindo acerca da sua própria condição, nas relações consigo e com o “Outro”.
A exposição parte assim de ficções despoletadas a partir da memória específica de cada personagem ou objecto, tais como em trabalhas: “Capita” e “É nos sonhos que tudo começa”. Outros trabalhos incidem sobre a temática do exótico, sublinhando a contradição inerente às diferentes origens dos elementos que os compõem: “Exotismo – Physiologus”; “Exotismo...– Enciclopédia” e “Exotismo #5”.
Na exposição ainda será apresentado a vídeo instalação “Parque temático” que, partindo da iconografia colonial existente no Portugal dos Pequenitos, protagonizada pelas esculturas que se encontram à entrada dos pavilhões das antigas colónias portuguesas, Parque Temático aborda os problemas da existência e da liberdade do homem. Ao tratar, também, as lógicas por detrás das relações de poder vigentes durante o colonialismo e o pós-colonialismo, mostra-nos o perverso jogo de submissão construído a partir da história da escravatura e segregação congelada na estatuária que representa figuras de negros para sempre presos nessa condição.
Em Janeiro de 2016, o artista Vasco Araújo solicitou autorização à Fundação Bissaya Barreto (FBB) - instituição particular de solidariedade social de utilidade pública que gere o Portugal dos Pequenitos - para fotografar e/ou filmar as esculturas. Disponibilizou para tal, à FBB, todos os esclarecimentos e o guião do projecto. O pedido foi indeferido sem ser apresentada qualquer justificação.
Mais tarde, em Março de 2016, através do Laboratório de Curadoria da Universidade de Coimbra/Colégio das Artes, reiterou institucionalmente o pedido de autorização, enquadrando-o no trabalho académico em curso no âmbito desse mestrado. De novo o pedido foi declinado, sem qualquer justificação.
Confrontado com a falta de autorização para prosseguir com a captação de imagens, o artista decidiu continuar o trabalho, sem usar qualquer imagem ou filme das esculturas mas mantendo a imagem videográfica cega. O diálogo que compõe a peça Parque Temático foi interpretado por actores da Companhia Bonifrates e da Escola da Noite.
Em Junho de 2016, o artista realizou várias diligencias e pressões institucionais e mediáticas e obteve como resposta que a Fundação se encontrava num processo de revisão de conteúdos do Portugal dos Pequenitos, e que pedia que o artista os voltasse a contactar no início de Janeiro de 2017.
Tal como sugerido pela própria Fundação, o artista voltou a enviar, na data sugerida, um pedido de autorização. No dia 17 de Janeiro de 2017, Vasco Araújo recebeu a resposta por carta a autorizar o uso das imagens solicitadas. Mostra-se agora a versão original tal como todo o processo anterior.
“É por isso que me lembrei do passado, por ter medo do futuro…”, é a segunda exposição individual de Vasco Araújo na Galeria Presença no Porto.
Entrada actualizada el el 09 may de 2017
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