Descripción de la Exposición
O Instituto Moreira Salles inaugura no dia 20 de fevereiro, em seu centro cultural de São Paulo, a exposição Do arquivo de um correspondente estrangeiro - Fotografias de Luciano Carneiro, com 150 imagens do final da década de 1940 e da década de 1950, período em que o fotojornalista cearense atuou na revista O Cruzeiro. A mostra pretende difundir a visão de um talento ainda pouco conhecido na história da fotografia brasileira e permite um denso recorte do início do moderno fotojornalismo no país. Por ocasião da abertura, às 17h, acontecerá uma visita guiada com os curadores Sergio Burgi e Joanna Balabram.
Luciano Carneiro foi um dos jornalistas mais atuantes de seu tempo. Em uma curta carreira, interrompida por sua morte aos 33 anos em um acidente aéreo, logo se destacou entre os principais nomes de O Cruzeiro. Trabalhou na revista entre 1948 e 1959, inicialmente como repórter e, no ano seguinte, escrevendo e fotografando. Nesse período, a publicação fez uma consistente inflexão em direção a um fotojornalismo mais humanista e engajado. Essa mudança foi concretizada por fotógrafos como José Medeiros, Flávio Damm, Luiz Carlos Barreto, Henri Ballot, Eugênio Silva e o próprio Carneiro, que passaram a integrar a equipe da revista, trazendo para as fotorreportagens maior ênfase na objetividade e no caráter documental e jornalístico.
Graças à enorme estrutura dos Diários Associados, grupo do qual a revista fazia parte, Carneiro pôde fazer séries de reportagens em quatro continentes, incluindo a cobertura da Guerra da Coreia, em 1951, sendo um dos únicos repórteres sul-americanos a cobrir o conflito. Com seu espírito aventureiro e com um brevê de paraquedista que possuía, saltou, ao lado do exército americano, sobre as linhas inimigas durante a guerra.
Carneiro documentou, em 1955, o trabalho humanista do dr. Albert Schweitzer na África - premiado três anos antes com o Nobel da Paz. Acompanhou a entrada de Fidel Castro e seus companheiros vitoriosos em Havana, em janeiro de 1959, e realizou ainda reportagens no Japão, na Rússia e no Egito de Gamal Abdel Nasser, presidente daquele país de 1954 até 1970.
No Brasil, realizou matérias sobre jangadeiros, posseiros, a seca no Nordeste, a herança do cangaço, as lutas estudantis e ainda diversas matérias reunidas na seção "Do arquivo de um correspondente estrangeiro" na revista O Cruzeiro, da qual era titular e onde expressava livremente suas opiniões. Ali, revelava influências da fotografia humanista do pós-guerra praticada por fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, Robert Doisneau e W. Eugene Smith. Era um contraponto à coluna de duas páginas de David Nasser, expoente de uma escola de jornalismo de viés sensacionalista, a qual Carneiro se opunha frontalmente.
Esse conjunto de imagens corresponde integralmente à coleção de originais cedida ao IMS por sua família, em que se destacam as reportagens que realizou no exterior como correspondente da revista.
Além das fotografias originais, serão exibidos materiais de época, como revistas e recortes de matérias. Outro destaque é um vídeo com entrevistas de Luiz Carlos Barreto, Walter Firmo, Evandro Teixeira, Flávio Damm além de dois depoimentos inéditos de Ziraldo e de Luciano Carneiro Filho em que comentam a influência exercida pela geração de fotojornalistas dessa época e analisam, em especial, o trabalho de Carneiro.
Sobre o fotógrafo
José Luciano Mota Carneiro (Fortaleza, 1926-Rio de Janeiro, 1959), filho de Antônio Magalhães Carneiro e Maria Carmélia Mota Carneiro, nasceu no dia 9 de outubro. Iniciou sua carreira como jornalista nos jornais Correio do Ceará e O Unitário, periódicos integrantes dos Diários Associados. Começou a fotografar nesse mesmo período e, em 1948, passou a integrar a equipe da revista O Cruzeiro, no Rio de Janeiro, como repórter. Suas fotos passariam a ilustrar as reportagens um ano depois.
Luciano Carneiro morreu tragicamente, no dia 22 de dezembro de 1959, em um acidente de avião próximo à cidade do Rio de Janeiro, quando retornava de um trabalho em Brasília: fotografar o primeiro baile de debutantes da nova capital, então às vésperas da inauguração.
Dos destroços do avião, foram resgatadas suas máquinas fotográficas e os filmes com as fotos. A revista o homenageou publicando o que seria sua última matéria, no dia 16 de janeiro de 1960, sem título nem textos, apenas imagens - em uma delas, aparece o próprio fotógrafo refletido em um espelho. Antecedendo as imagens do acidente, na edição de 9 de janeiro, que anunciava o falecimento, foram publicadas duas páginas escritas por David Nasser lamentando a perda do colega. No texto, Nasser ressalta as diferenças entre o jornalismo praticado por ambos e, ao mesmo tempo, reconhece e enaltece sua objetividade e seu humanismo. Na edição de 16 de janeiro, foi Rachel de Queiroz quem publicou sua homenagem.
Exposición. 12 nov de 2024 - 09 feb de 2025 / Museo Nacional Thyssen-Bornemisza / Madrid, España