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Distâncias do Sentir

Exposición / Galeria Homero Massena / Rua Pedro Palácios, 99 / Vitória, Espirito Santo, Brasil
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Cuándo:
11 sep de 2019 - 09 nov de 2019

Inauguración:
11 sep de 2019

Precio:
Entrada gratuita

Organizada por:
Galeria Homero Massena

Artistas participantes:
Khalil Rodor

ENLACES OFICIALES
Web 

       


Descripción de la Exposición

Numa época em que a guerra na Síria coloca o país na linha de frente de uma crise de refugiados em escala global, a exposição proposta por Khalil Rodor, na Galeria Homero Massena, regasta outro fluxo migratório do povo sírio, ocorrido um século antes, que trouxe seus antepassados ao Brasil, investigando aqui seus desdobramentos culturais e familiares. Busca-se aqui discutir a relação entre memória e diáspora a partir dos modos com que seus deslocamentos (espaciais, simbólicos, afetivos) ressoam diretamente no cotidiano das pessoas. Na tensão entre a origem e o presente, o peso da herança cultural e os diversos hibridismos e escolhas individuais que também compõem nossas identidades ficam duas indagações complementares: A que lugares pertencemos? E de que modo esses pertencimentos podem ser sobrepostos e friccionados através do gesto artístico? Distâncias do Sentir busca entender como a memória modifica o que a circunda e, por extensão, o que nos rodeia – ou seja, o cotidiano e seus afetos. Nas palavras de Khalil, “ela parte de duas terras, uma reminiscente, outra presente, que se atualizam entre si”. Criando novos modos de se pertencer. Ao reunir objetos, instalações e um filme de curta-metragem (O Mascate), elaborados a partir de elementos oriundos da história familiar do artista, sobrepõem-se diversos deslocamentos: o espacial, empreendido pelo seus bisavô Mohamed (rebatizado como Américo ao chegar ao nosso continente), ao percorrer o oceano em busca de melhores condições de vida; o sígnico, dos vestígios e objetos ligados ás lembranças de sai família, que se reconfiguram no espaço expositivo como trabalhos artísticos; e o virtual, inerente ao ato de se rememorar, que aqui se desloca do artista e seus parentes, guardiões do legado cultural familiar, aos visitantes, instigados a estabelecer novas conexões (ainda que de aderência momentânea) a partir de suas memórias e experiências pessoais – o que acaba por desencadear um quarto deslocamento, situado na esfera dos afetos. Essa exposição ampla a investigação iniciada por Khalil no documentário Emigro (2020). O título é um anagrama da palavra “origem”, dentro de um empreendimento de reimaginar a herança migrante (com base nas lembranças e histórias contadas por sua avô), a partir de uma dimensão íntima, familiar e individual, que move o gesto do artista, desvelando suas inquietações. Emigrar é colocar-se em constante movimento, é redesenhar distâncias, aproximar sensações. Quem migra esvazia suas casas para poder partir, elegendo alguns pertences como relíquias íntimas a serem transpordas conseguem, e que serão, simbolicamente, as pedras angulares de um novo lar a ser construído alhures, Américo, ao chegar ao Brasil, adotou o ofício de mascate, aquele que se desloca de cidade em cidade, comercializando mercadorias que iriam habitar casas (e corpos, no caso dos tecidos) de seus futuros clientes- objetos de revestidos de afetos, consolidariam essas habitações também como lares. Acumular e esvaziar são ações fundamentais no processo migratório e, portanto, são tão preciosos à história familiar de Khalil daí serem os pontos de partida para a experiência proposta por Distâncias do Sentir. A diáspora, ao lança os indivíduos em trânsito, permite que a variável “impermanência” lhes atravesse intensamente. Isso explica a recusa, no desenho expográfico, de trajetos retilíneos e suas simplificações- daí o movimento em espiral, presente tanto no caracol desenhado no chão quanto na escada percorrida pelo mascate, ou ainda as ramificações da árvore, o oscilar dos tecidos suspensos ou mesmo o olhar para si que o espelho afixado à porta nos impõe, logo no começo dessa jornada. Se a nação, para Benedict Arderson, é uma comunidade imaginada, podemos deduzir que ela é constantemente reimaginada, tanto por quem migra, quanto pelas diversas gerações de seus descendentes, num processo que vai se intensificando por conta das identidades culturais cada vez mais hifenizadas. É um processo híbrido e bastante complexo e, por isso mesmo, repleto de derivas, desvios e bifurcações; Stuart Hall, em seu livro Da Diáspora, vai nos lembrar que, nessa reinvenção cultural, “ não é uma questão do que as tradições fazem de nós, mas daquilo que nós fazemos de nossas tradições”. A cultura é uma dimensão coletiva, mas o que interessa a Khalil é percorrer esses enclaves íntimos, incrustados na esfera familiar: É deslocar por alguns instantes para as ressonâncias e rasuras possíveis de se operar no gesto individual de reorganizar e tensionar o simbólico e o sensível para, em seguida, devolvê-las ao próprio tecido social. Daí essa escolha de signos cotidianos e pessoais transportados para dentro da galeria: a porta (que era transferida para cada nova residência da família no Espírito santo, até hoje encontra-se na casa em que o artista reside), o caracol das brincadeiras de infância na areia da praia, o leito suspenso composto dos tecidos finos que seriam usados nas roupas de festa, a árvore que se torna genealógica a partir da presença dos cristais, instrumentos de trabalho da mãe de Khalil, e o filme que reimagina as fotografias e histórias de família narradas por sua avó. Ou seja, pratica-se aqui a reinvenção da memória num constante processo de reinvenção de si, dado em vários estratos temporais (do artista, de seu bisavô e de seus outros descendentes). Texto: Erly Vieira Jr. *A exposição “Distâncias do Sentir” contou com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 019/2018. ------------------------------------- Khalil Rodor Khalil Rodor é artista, natural de Jacaraípe – Serra. Com fortes influências de sua graduação em Cinema e Audiovisual pela Ufes, transita entre o Vídeo, a Performance e a Instalação. Vê na arte a possibilidade de construir territórios, dar contorno a questões afetivas que não possuem uma contraparte material estabelecida. Criar um novo território se faz sob a afirmativa de destruir o velho. E é através da dinâmica do esvaziamento e preenchimento que se busca entender os trânsitos de emigração, como a de sua própria família vinda da Síria. Investigar o pertencimento – pertencer a algum lugar ou a alguém – sob a ótica da emigração e memória familiar são questões que estão presentes na exposição desenvolvida na Galeria Homero Massena.


Entrada actualizada el el 09 jul de 2021

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