A estadia de Júlio Resende em Paris, onde se instalou a partir do Inverno de 1947, teve uma enorme importância no seu trajecto artístico, tal como acontecia com todos os artistas recém-formados que obtinham bolsas de estudo para o estrangeiro. Tratava-se de uma oportunidade de contacto com um universo artístico e com um conjunto de referências inexistentes em Portugal.

Dessa estadia, Resende deixou um pequeno Diário que constitui o objecto desta exposição.

Os sítios visitados, as amizades construídas, a visita de familiares e de outros artistas idos de Portugal - tudo permanece em registos de circunstância, a que ao desenho Resende juntava a fotografia e a nota manuscrita, bem como os bilhetes de entrada nos museus, os cartões dos restaurantes ou dos meios de transporte utilizados e os recibos dos pequenos hotéis. Das academias e dos ateliers frequentados, ... das exposições vistas, também ficou memória. Paris ainda era o centro do mundo, o que permitiu a Resende partir daí para o sul de França e Itália, para uma viagem de bicicleta pela Bretanha, seguir rumo à Holanda, a Londres e depois a Itália, outra vez.

O Diário é um arquivo vivo, mas também um lugar de reflexão onde se fixam pensamentos sobre o tempo do pós-guerra e ideias sobre o fenómeno artístico. Elaborado num caderninho que ostenta na capa a palavra Dessin -que tão bem se acomoda ao destino deste Lugar do Desenho- constitui um documento notável sobre o início do itinerário artístico do pintor.

Esta exposição funciona como complemento da que se apresenta na Galeria do Acervo, inaugurada em 23 de Outubro de 2011, intitulada 'Caderno de Viagens', e permite ao Lugar do Desenho continuar a evocação de Júlio Resende, estendendo à sala de exposições temporárias da Fundação a lembrança do seu percurso, preservando o carácter intimista e vivenciado da sua experiência parisiense do tempo posterior à segunda guerra.