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Exposición / Galería Eduardo Fernandes / Rua Harmonia, 145, Vila Madalena / São Paulo, Sao Paulo, Brasil
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Cuándo:
26 mar de 2020 - 11 oct de 2020

Inauguración:
26 mar de 2020

Precio:
Entrada gratuita

Organizada por:
Galería Eduardo Fernandes

Artistas participantes:
Ana Amélia Genioli

ENLACES OFICIALES
Web 

       


Descripción de la Exposición

mare nostrum ana roman O domínio dos mares e oceanos é uma questão central há muitos séculos. A navegação trouxe a possibilidade de troca e comunicação entre vizinhos distantes. Em muitos casos, a aventura da navegação veio acompanhada pelo processo de dominação e pela exploração de populações inteiras. Constituem-se territórios extra mares, parcelas do espaço que são submetidas a uma ordem externa e ao poder emanado pelo agente estrangeiro, que se territorializa nessas áreas. Tais processos de colonialismo e imperialismo ocorrem no espaço continental e insular: dividem-se parcelas do espaço e criam-se novas fronteiras para que o poder seja exercido. O mapa aparece, nesse contexto, como um instrumento para facilitar as rotas entre mares e oceanos, representar as novas conquistas e identificar – ou até imaginar - tudo aquilo era território ou ainda terreno desconhecido. A superfície dos mares e oceanos não escapa às disputas territoriais. Em 1609, produziu- se o primeiro documento sobre sua jurisdição. O holandês Hugo Grócio, contratado pela direção da Companhia Holandesa das Índias Orientais, escreve anonimamente o tratado Mare Liberumn ('Mar livre' ou, 'Liberdade dos Mares'), em defesa da livre navegação nos mares. Segundo o autor, os mares seriam livres por seu caráter primordial de comunicação entre os povos, tal que sua liberdade deveria ser garantida. Em 1635, essa tese foi contestada pelo inglês John Selden, que modificou o conceito para “Mare Clausum". Para Selden, o mar seria, na prática, tão passível de ser apropriado quanto o território terrestre e, portanto, conquistado. Essa história de longa duração contada nos parágrafos anteriores atravessa os trabalhos de Ana Amelia Genioli. Nessa nova série, há uma espécie de impulso pelo mapa. Presente em outros trabalhos da artista, a representação cartográfica é ponto de partida e chegada para uma nova imaginação e representação cosmológica. Não há, nas cartas e portulanos criados pela artista, meridianos e paralelos, uma escala única e, nem mesmo, uma legenda explícita ao espectador. Os elementos que compõem o cartográfico misturam-se. Os mapas da artista passam a representar lugares que só existem como imagem e imaginário. Ela deixa, porém, os títulos das obras como pistas para leitura. Na nova série de monotipias de Genioli, o impulso pelo mapa é marcado pela presença de uma rosa dos ventos, que é desconstruída e se expande por toda a dimensão do papel, aparecendo novamente em fragmentos. Tal elemento cartográfico se desfaz e se esvai diante da mancha de cor que parece formar, diante dos nossos olhos, uma superfície aquosa. Mare Clausum e Mare Liberumn misturam-se: as formas consenso sobre o assunto e, atualmente, há uma faixa de litorânea com quilometragem determinada sob controle dos diversos países. Há, porém, grandes parcelas do oceano identificadas como águas internacionais: elas são ambientes com pouca - ou quase Ao longo dos anos, chegou-se a um nenhuma - regulamentação. geométricas vindas do esfacelamento da rosa dos ventos tentam conter o movimento da água, mas ela escapa. O mar afirma sua liberdade – espraiando-se pelo papel em um gesto de impossível contenção. A água sempre escapa. Ela muda de forma, evapora entre pequenos poros invisíveis aos nossos olhos, ela escorre dentre os nossos dedos quando tentamos pegá-la com as mãos. Os procedimentos repetidos nas monotipias da série assemelham-se a exercícios de tentativa de contenção da água que escorre em todas as direções. Ao contrário da rosa dos ventos tradicionais, que aponta para o norte geográfico do planeta formado por seu campo magnético, a rosa dos ventos esfacelada não aponta para lugar nenhum. Ela aponta para todos os lugares, e segue – ou contraria – o movimento da água. Não há mais norte para onde ir. Há apenas o movimento fluido que a impulsiona e que vem de múltiplas direções. Os elementos geométricos, quando combinados com a circulação da água por toda a superfície do papel, produzem a imagem de uma harmonia musical. Há um ruído: um som que vem do fluxo de água e de seu encontro com a superfície. Presentifica-se diante do espectador uma dança das águas, a qual somos, por nossa escala humana, incapazes de apreender mesmo com nossos preciosos - e científicos - instrumentos para apreensão da natureza. Nos colocamos apenas como observadores desse fenômeno natural. Apesar da precisão de traço e forma, as monotipias de grande escala parecem nos engolir quando instaladas lado a lado. Elas o tempo inteiro nos lembram da nossa desorientação diante do mundo, e das falhas tentativas de mapear com precisão absoluta o nosso entorno. Não há apenas um norte e, apesar das tentativas de contenção, o mar não pertence a ninguém. A mancha de cor que escapa a forma geométrica nada mais é do que uma metáfora do metáfora do movimento, presente em tudo que está no mundo. O exercício de Ana Amélia é o exercício de tornar visível a tarefa inexequível de conter a natureza.


Entrada actualizada el el 09 feb de 2021

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