Descripción de la Exposición
A exposição “Daqui começo o mundo” reúne na Galeria Homero Massena em Vitória – ES trabalhos em fotografia, livros de artista e vídeos do artista capixaba Gui Castor. A exposição estabelece um diálogo com a exposição “Moderna Para sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú”, em cartaz no Palácio Anchieta e que traz à capital do Espírito Santo um dos mais importantes e significativos conjuntos dos primórdios da fotografia artística no país.
Como parte integrante desta programação dedicada aos temas da fotografia no campo da arte, a Galeria Homero Massena recebe o trabalho fotográfico e em vídeo do artista capixaba Gui Castor. Assim, buscou-se construir na programação uma referência histórica e consolidada no campo da fotografia ao mesmo tempo em que um jovem artista elabora trabalhos que pode ser interpretados como respostas contemporâneas a questões semelhantes às desenvolvidas pelos grandes fotógrafos brasileiros dos anos 1940 a 1970 apresentados pela mostra do Instituto Itaú Cultural. Assim, as duas exposições apresentam complementaridade em suas abordagens. O visitante que vai ao Palácio Anchieta e tem contato com uma produção das mais importantes do Brasil poderá também ter um contato intenso com a produção atual, a partir do olhar de um jovem artista de sua cidade.
“Daqui começo o mundo”, título que se inspira numa pintura de Cícero Dias é uma afirmação de auto estima e antropofágica. Na pintura de Cícero Dias há uma valorização do local para a interpretação do mundo. O artista escreve em sua tela, uma das jóias do modernismo pernambucano e brasileiro, que “Eu vi o mundo, ele começava no Recife”. Esta é uma frase que faz com que a herança européia e as referências dominantes da arte sejam metabolizadas e reinterpretadas segundo um sotaque local.
Nesse sentido, há um trânsito que incorpora aspectos da alteridade ao mesmo tempo em que constrói a própria identidade, um contato com o outro mas com constante referências ao local. Segundo o curador da mostra, o mineiro Júlio Martins, “Gui Castor é um artista que possui muitas obras em solo estrangeiro, mas ele estabelece contatos e firma seu local de fala a partir de um sotaque próprio, um sotaque capixaba.”
As várias linguagens presentes na mostra contribuem com a politização do discurso do modernismo brasileiro que hoje, na contemporaneidade, é matéria para o trabalho de muitos artistas, que pesquisam, problematizam e desdobram as heranças da estética moderna. Novamente segundo Martins, “a produção de Gui Castor é interessante pois traça uma voz que foi esquecida pelo discurso dominante da modernidade e que ressurge na modernidade como problematizarão.
Por exemplo, foram construídas, sob a mesma lógica moderna, cidades para abrigar e excluir os leprosos do convívio social, e o Gui Castor passou dois anos investigando como esta cidade hoje, no interior do Espírito Santo, bastante à margem portanto, lida com os dilemas de a consciência em relação à doença ter se modificado enquanto que o preconceito não.”
De certa maneira a leitura do modernismo é muito formal, somente interessado nas formas, nos jogos de percepção, deixando de lado o contexto social e político. Os trabalhos de Gui Castor lidam com a herança moderna mas realizam uma contra leitura, uma leitura crítica e atual dos temas. É um convite aos contrapontos.
A exposição tem título inspirado numa pintura do pintor modernista pernambucano Cícero Dias. A obra “ Eu vi o mundo, ele começava no Recife” é uma afirmação muito forte e no melhor espírito da antropofagia brasileira. Desenha a possibilidade de se apropriar de diversas influências de vários lugares, como a dita alta cultura européia, numa mistura própria. Para o curador, “a antropofagia constitui uma das matrizes mais poderosas da formação da nossa cultura brasileira. O sentido da frase que batiza a exposição “Daqui começo o mundo” diz respeito a esta habilidade em receber a cultura que vem de fora e devolvê-la em novos contornos, aqueles que me interessam. É algo muito poderoso e de extrema alto estima, algo que precisamos recuperar na contemporaneidade”.
Outro aspecto a se destacar é a postura do artista Gui Castor como antropólogo do contemporâneo. O artista participa de um tendência das artes atuais em buscar o convívio e o diálogo com o outro, de construir relações, encontros, tal como o approach de um antropólogo, que chega em uma tribo sem informações prévias e busca conhecer e evidenciar os fatos que vivencia se relacionando diretamente com seu objeto de estudo.
O curador Martins relembra uma frase de Cildo Meireles que fala que “o artista, tal como o garimpeiro, vive de procurar o que nunca perdeu.” Assim, nessa postura de “artista como etnólogo”, como conceituou o crítico de arte Hal Foster, Gui Castor procura em seus trabalhos estabelecer encontros e relações com o outro. O artista define sua postura assim: “Exercito um olhar aberto que recolhe nos encontros rápidos e anônimos, a busca do contato com o outro”.
Exposición. 12 nov de 2024 - 09 feb de 2025 / Museo Nacional Thyssen-Bornemisza / Madrid, España