Descripción de la Exposición
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A arte pode ser absolutamente ineficaz e absurda. Mas a arte pode também, mesmo que de forma passiva, fazer ponte entre interior e exterior, matéria e espírito, racional e sensação. A heterogeneidade das práticas artísticas (aquilo que eu acredito, a sua negação, e todas as coisas entre uma coisa e a outra) preparam o nosso corpo para lidar com a imensurável multiplicação de eventos sociais, políticos, culturais e ecológicos. A arte, entendida desta maneira, oferece no espaço público, um receptáculo para absorção das diferenças não-negociáveis (uma pessoa pode conter em si o interesse em duas obras antagónicas, que se anulam; pessoas com credos políticos antagónicos podem reunir-se em torno da mesma obra). A arte necessita de ser inscrita através de uma política glocal. No plano nacional importa sublinhar a inexistência de um plano de atuação de cima a baixo (da esquerda para a direita , etc) que inclua todas as instituições subsidiadas pelo Estado, que poderiam usufruir de apoio caso fossem utilizadas um conjunto de boas práticas (como por exemplo cotas de representação e fees dos artistas) segundo um decreto lei baseado numa discussão que inclua os artistas. Uma política Cultural do Estado aproveitaria os trabalhadores precários e estruturas já existentes e criaria uma revista de arte impressa, providenciando condições financeiras para a profissionalização de uma equipa editorial, gerando mais emprego e pensamento crítico.
Se os Municípios - seguindo um plano nacional, parassem de usar o fundo da cultura exclusivamente para entretenimento e desporto ou exposições exclusivamente fora da realidade contemporânea cultural, sobretudo aqueles que beneficiam de receitas extraordinárias dos casinos, aconteceria uma autêntica revolução cultural e uma melhoria substancial da cultura. Para mim, este movimento deverá ser muito próximo do que são os princípios da permacultura . Existem oportunidades para implementar políticas culturais de norte a sul do país onde há pequenas verbas, escolas, praças, e nichos de resistência cultural – que poderiam estimular muitos artistas e outros agentes culturais, sempre em troca de pagamento devido, despoletando o enriquecimento cultural necessário a cada zona do país. O rol de transformações necessárias a implementar merece muitas outras vozes, porque a arte é feita coletivamente. Serve o presente documento para vos interpelar e iniciar uma discussão maior. Eu aguardo que vocês que me estão a ler, respondam para o email do projeto. A minha intenção é transgredir de uma vez por todas o constrangimento histórico que existe em arte, que não permite pensar a prática artística para além da relação entre atelier, galeria e museu. É urgente pensar num conjunto de possibilidades que são a atualização do conceito de “operador estético” que Ernesto de Sousa utilizou a partir de Bruno Munari, para definir um conjunto de práticas que vão para além daquilo que é socialmente aceite como prática artística. Há artistas programadores, escritores, pesquisadores, etc (um rol de possibilidades que implica mais que uma voz para nomear) e um só sistema de desenvolvimento de trabalho e, sobretudo, de retribuição financeira. Existe ao mesmo tempo a necessidade da arte se inscrever de forma mais premente na nossa sociedade por forma a reduzir o espaço entre aquilo que as pessoas pensam que é arte e aquilo que estamos a fazer.
Os artistas precisam, por isso, emaranhar-se nas instituições, revistas, câmaras municipais, e atuar com as suas forcas próprias gerando uma sympoesis ou fazer conjunto, que é o modo que potencialmente gerará mais trabalho e dinheiro transformando por completo a arte contemporânea.
O dinossauro que tem em mãos é potencialmente um jogo em que corta ou pinta como forma de aprender/integrar a ideia de extinção. A arte está em perigo pelos seus dinossauros que não estão a cuidar do seu ecossistema ou não estão a conseguir acompanhar o seu desenvolvimento.
A hierarquia presente na arte é um problema real. É estranho que um artista que comece o seu espaço, o seu projeto, ganha capacidade de escolha e decisão e chegue a todoxs xs outrxs agentes de forma mias rápida. Não interessa se a sua obra artística é mais madura. Interessa o capital cultural - aquilo que poderá oferecer ao outro. Acontece que, com um conjunto alargado de possibilidades que transgridem a noção social de artista – o seu constrangimento histórico, é possível colocar de forma horizontal a relação entre artista, curador, critico, diretor de museu e, já agora, o público, que são as testemunhas que nos ajudarão a inscrever a arte no real."
Hugo Canoilas
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España