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Condenado ao Moderno?

Exposición / Instituto Figueiredo Ferraz / Rua Maestro Ignacio Stabile, 200 - Alto da Boa Vista / Ribeirão Prêto, Sao Paulo, Brasil
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Cuándo:
31 may de 2022 - 17 dic de 2022

Inauguración:
31 may de 2022

Comisariada por:
Carlos Alexandre

Organizada por:
Instituto Figueiredo Ferraz

ENLACES OFICIALES
Web 

       


Descripción de la Exposición

Por ocasião da comemoração dos cem anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, diversos eventos têm sido promovidos nos mais variados formatos e propostas de abordagem pelo país. Deste modo, a fim de contribuir com a produção de conhecimento e expansão do "campo de visão" em torno do tema, o Instituto Figueiredo Ferraz, por meio da coleção Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz, propõe a realização da exposição Condenado ao Moderno?, ocupando totalmente o pavimento térreo do IFF. Exibindo em torno de sessenta obras – pinturas, esculturas, gravuras, livros de artista, fotografias e vídeos –, pretende-se impulsionar a reflexão acerca do que seria (prática e conceitualmente) o modernismo, o moderno e o pretenso projeto de modernidade que a cultura ocidental impetrou desde o final do século XVIII, que, sendo considerado "vivo" ou ultrapassado, ainda é objeto de debate e disputa no campo cultural. No que diz respeito à arte contemporânea, é de interesse dessa exposição investigar – privilegiando a dúvida e se afastando de dicotomias e revisionismos – o modo como os ecos da modernidade e do movimento artístico-cultural modernista se articulam e se friccionam com a "arte do nosso tempo", sem se presumir, evidentemente, a renúncia às suas próprias questões. Considerando a linha do teórico Max Weber¹, o marcador da modernidade no ocidente se dá a partir da autonomia de três esferas socioculturais que, até então, eram concentradas pela religião: ciência, moral e arte; sendo a última ponto de partida não somente para o modernismo do início do século XX, como para todos os demais ciclos estéticos surgidos posteriormente². Sendo assim, seria mesmo a arte contemporânea disruptiva em relação às inúmeras questões conceituais e estéticas trazidas pelos modernismos ou estaríamos nós "condenados ao moderno", como afirmaram, em momentos distintos, os pensadores culturais Mário Pedrosa³ e Octávio Paz⁴, no sentido de não termos superado as problemáticas e questões de um tempo histórico advindo, em grande parte, de um controverso sonho de modernidade? Aproximando trabalhos cujas tônicas modernistas mais "clássicas" são evidentes (sobretudo no que tange à estética) de outros notadamente "contemporâneos" constituídos por questões comuns aos modernismos, o discurso expográfico se desenvolve – sem encadeamento retilíneo, muito privilegiado pela arquitetura do espaço expositivo – a partir da hipótese de que não há ruptura absoluta que não traga consigo ambivalências e paradoxos⁵, fazendo dela efetiva em determinados afastamentos, ao mesmo tempo que é mantenedora de vasos comunicantes com o que se rompeu, assumindo, por consequência, um olhar histórico atento ao modo como os conceitos – neste caso, modernismo e modernidade – percorrem e se transformam no decurso da história⁶, ressignificando-a e ressignificando-se, assim, incessantemente. Com as páginas configuradas devido ao que, a princípio, teria sido a ação do tempo, o livro-objeto Vida (2001), de Fúlvia Molina, convida a ser lido de todas as maneiras, exceto uma: folheando-o de modo progressivo e linear. Vida (2001) não diz respeito a um objeto congelado nas experiências de seu passado; nele ainda há movimento e faz crer que uma mesma história – ou, novamente, a própria história – pode, além de lida, ser escrita diversas vezes, de diversas formas e sob diversas orientações temporais. Os outros livros que acompanham o de Molina compartilham de tal ideia; alguns, inclusive, sugerindo relacionar a questão com a escrita e leitura da História da Arte⁷. História da Arte que apresenta uma trajetória de confluência belíssima entre as artes visuais e as letras, materializada por uma intensa produção de livros de artista, que enseja na arte contemporânea a presença da literatura em produções que vão bem além do suporte livro. Nuno Ramos, por exemplo, faz referência direta, por meio de sua pintura Uma faca só lâmina - 2 (2008), ao poema homônimo de João Cabral de Melo Neto. Um poema que tem como objeto de sua poesia o sujeito brasileiro, que atravessa as questões acerca do que é ser esse sujeito no Brasil "popular" (conceito também em constante processo de ressignificação); um Brasil que assistia a artistas como Rebolo, com a pintura Casario no mato (s.d), e Hélio Oiticica, que figura no vídeo experimental Rio to Oiticica (1979), de Regina Vater, conectarem suas manifestações ao mesmo sujeito e ao mesmo país constantemente em construção de suas identidades. Hélio Oiticica amalgamou com sua obra, sobretudo com seus parangolés e penetráveis, sujeito-corpo e identidade cultural; um panrangolé ou um penetrável não acontece se o indivíduo não veste ou atravessa com o seu corpo o corpo da obra. No penetrável Da cor da corda (2015), de Amélia Toledo, são cordas coloridas que estabelecem esse jogo de corporeidade e sensações além das táteis. Em outra ocasião em que esteve exposta, surgiram relatos, entre o público espectador, de casos de vertigem e perda de orientação, tal como há de ocorrer na trajetória do indivíduo perante seu tempo histórico. E não há outro "destino" a ser logrado por essa travessia que o de mais histórias, imagens, formas, tensões, questionamentos e entrelaces de tempos. Tal como na blague do modernismo, fazendo de si mesmo objeto de escárnio para questionar-se, Ernesto Neto, em O Nascimento da razão (1994), coloca em nossas mãos o multifacetado caminho de tal travessia, à qual os agentes históricos estão "destinados", sejam eles os indivíduos ou a própria Arte, afinando-se à já enunciada ótica de uma História não mais calcada nas certezas da razão e do progresso e sim flexível à polissemia dos conceitos. Trazer, contraditoriamente, a razão (conceito caro à modernidade) para o incerto e movediço terreno das pontas de nossos dedos, representaria, por si só, a dinâmica de comunicação e fricção entre modernidade e contemporaneidade. Sendo assim, uma célebre afirmação como essa de que somos "condenados ao moderno", à luz da atualidade, faz-se pergunta e provocação: tal "condenação" seria, na realidade, cada vez mais uma "condenação" ao novo dos modernistas, ressignificado como incerto e múltiplo para o contemporâneo? Há razão em encerrar uma questão com uma pergunta? Carlos Alexandre Curador ___________________ ¹ Max Weber, sociólogo, jurista e economista alemão, é considerado um dos teóricos fundamentais da sociologia, sendo também um dos principais a contribuir com a fundamentação e problematização do conceito de modernidade. ² Para aprofundar o debate, pode-se sugerir a leitura do livro As razões do iluminismo (1987), de Sergio Paulo Rouanet. ³ Mario Pedrosa foi jornalista, professor e crítico de arte brasileiro. ⁴ Octávio Paz foi poeta, ensaísta e tradutor. ⁵ Em "A tradição da ruptura", presente no livro "Os filhos do barro" (1974), Octávio Paz desenvolve a ideia apresentada. ⁶ Reinhart Koselleck foi um dos historiadores responsáveis pela "história dos conceitos", tendo o livro "Futuro Passado" como uma de suas principais referências. ⁷ A ideia do "fim da História da Arte" como a conhecemos, com classificações e representações fixas, pode ser aprofundada a partir das contribuições, no campo da teoria crítica, do historiador da arte Hans Belting.


Entrada actualizada el el 03 jun de 2022

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