Nesta exposição, os artistas Qiu Jie, Du Zhenjun e LiFang apresentam um olhar contemporâneo sobre as inúmeras realidades com que a China hoje se depara, com todas as suas incongruências, disparidades e desigualdades. As dezassete obras analisam, em três linguagens visuais e discursos diferentes, temas como a crise ambiental, o aumento da população, o papel da China na era da globalização, ou as questões da liberdade de expressão e socioculturais, no mundo das redes sociais bem como na criação artística, onde a difusão de imagens do corpo humano nu ainda é vista como pornografia.
China Hoje: A Desafiar os Limites articula-se em três núcleos, que correspondem às obras de cada artista e à problemática concreta por eles abordada.
No núcleo Limites para o Crescimento, Du Zhenjun apresenta-nos uma visão distópica das transformações profundas que a China tem vindo a sofrer desde a Revolução Cultural, em oito trabalhos de grande formato. Em técnica...mista, o artista cria elaboradas colagens fotográficas que traduzem a ascensão do capitalismo desenfreado das duas últimas décadas e seus devastadores efeitos ambientais como a poluição e a escassez de recursos naturais, ou ainda a explosão demográfica. Em todos os trabalhos, a Torre de Babel do capitalismo ergue-se no fundo da imagem, numa alegoria à estória bíblica da destruição que se abateu sobre a humanidade para castigar a sua ambição cega.
O conjunto de seis pinturas que compõe Liberdade de Expressão, da autoria de LiFang, é dedicado a um dos direitos humanos fundamentais consagrados na Declaração Universal de 1948. Produzidas em 2012, estes óleos sobre tela quase impressionistas retratam dois episódios do percurso do artista Ai Weiwei, e da repressão que foi alvo. Em 2011, Ai Weiwei pousou nu com as suas quatro assistentes do atelier, e posteriormente difundiu as imagens nas redes sociais afirmando que “nudismo não é pornografia”. A rede social Facebook censurou as imagens, desactivando a página do artista. Ai Weiwei continua a lutar por maior transparência e liberdade para o domínio público na China, luta essa a que Li Fang pretende dar continuidade com estes nús de Ai Weiwei, sozinho e na companhia de vários homens e mulheres. O espaço de liberdade pretendido é também digital – o Facebook, Twitter, Wikipedia e Youtube estão bloqueados na China, e o motor de busca Google permanece sem condições para operar.
No núcleo Cidadania Cultural, Qiu Jie defende a garantia de direitos culturais a todos os cidadãos, com vista a gerar uma nova consciência política, através da possibilidade de fruição, experimentação, informação, memória e participação que a cultura representa. Nos seus intrincados desenhos a carvão, técnica chinesa ancestral, surgem o Presidente Obama, uma pinup, um soldado da Revolução ou um retrato de Mao Tsé-Tung com cabeça de gato. Sarcástico, o trabalho de Qiu Jie poderá ser descrito como “pop político”, por confrontar a história da sociedade chinesa com imagens da cultura popular ocidental, retratando a ambivalência do percurso pessoal deste artista chinês, a viver fora do seu país.
O discurso curatorial de China hoje: a desafiar os limites baseia-se no trabalho do investigador e físico australiano Graham Turner, “A Comparação dos ‘Limites do Crescimento’ com a realidade de trinta anos" (2008). Através das obras de Qiu Jie, Du Zhenjun e LiFang, a exposição constrói uma narrativa visual que interroga questões prementes como os limites da sustentabilidade ambientais, a procura da identidade chinesa ou a luta por uma maior liberdade de expressão, suscitando uma reflexão sobre o papel da China no mundo actual.
Entrada actualizada el el 25 oct de 2016
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