Descripción de la Exposición
Esta exposição de Manuel Cargaleiro evidencia, do seu trabalho recente, algumas das linhas de desenvolvimento da cerâmica na contemporaneidade: a que explora uma vertente mais pictórica, utilizando a superfície cerâmica como suporte de pintura, e a que investiga uma faceta mais escultórica, através do tratamento de matizes, brilhos e reflexos dos relevos e
vidrados.
Nesta exposição são também visíveis os modelos formais de abordagem dos suportes que a história nos legou, seja quando o artista utiliza essa unidade mínima que todos os ceramistas conhecem – o quadrado cerâmico, o azulejo – seja quando prefere compor um painel formado por pequenas unidades e trabalhá-lo como um todo.
É ainda claramente perceptível a opção por uma de duas possibilidades: a submissão ao enquadramento e à forma base, elaborando as bordaduras geométricas e reforçando a moldura em redor com uma pincelada azul; ou a libertação desta moldura, percorrendo com motivos fluidos, mais vegetais e florais do que humanos, toda a superfície.
Quando a moldura surge, assiste-se a uma ornamentação sugestivamente próxima da arte tradicional, que chega a lembrar os lenços de feição popular, quer pelo recurso a elementos geométricos esquemáticos, quer pela inscrição do nome do artista e da data da obra, que assim adquirem valor formal, bem como pela menção Ravello, um dos sítios onde a sua
produção artística foi consagrada num núcleo museológico.
O que não é visível, pelo menos a um olhar não iniciado, é o conhecimento e o domínio técnico que esta prática exige de Manuel Cargaleiro que, como os artistas que cultivam a cerâmica, tem plena consciência da transformação mágica que se opera nos seus processos de fabrico.
Tendo sobrevivido a todas as alterações que a arte registou ao longo de séculos, a cerâmica preserva, nos nossos dias, as dimensões de uma prática multifacetada, suficientemente maleável para se adaptar a distintas finalidades.
Associada, por um lado, à dimensão utilitária de revestimentos parietais e de pavimento que asseguraram a sua presença em conjuntos edificados de interesse patrimonial; integrada, por outro lado, nas produções funcionais que geraram, e continuam a gerar, os objectos do nosso quotidiano, dotados das características específicas com que respondem ao seu destino; enquadrada, finalmente, nas criações decorativas que lhe garantiram o estatuto de arte aplicada, a cerâmica tem acompanhado a mudança das linguagens e das tecnologias que o universo artístico sempre conheceu.
É com a resposta apropriada que a cerâmica surge em cada envolvimento, ora procurando o acerto formal e material, ora pesquisando a tecnologia correspondente, ora, finalmente, acomodando o acerto iconográfico que tão importante se revela no caso de encomendas.
Desta conjugação de factores e da exposição à variedade de pretextos e de contextos em que a cerâmica sempre se viu implicada, resultaram a sua fortuna e a sua riqueza. Objecto de escala doméstica manuseado no quotidiano mais prosaico, escultura ou decoração monumental para a marcação dos grandes espaços de representação, revestimento conveniente à circulação de grandes fluxos de pessoas em espaços públicos, a cerâmica transfigura-se e manifesta as problemáticas e as ambiguidades que a sua definição foi incorporando: arte aplicada, arte decorativa, património integrado, arte.
A Manuel Cargaleiro pouco interessará esta tipificação dos modos de fazer e dos modos de usar, e o inventário das possibilidades que esta prática lhe abriu e continua a abrir. O trajecto longo que tem percorrido permite-lhe criar no interior de uma linguagem há muito estabelecida, que identificamos sem dificuldade, e exercer o compromisso entre a tradição portuguesa e o fabrico italiano que descobriu.
Exposición. 02 ene de 2025 - 07 ene de 2025 / Espacio en Blanco / Madrid, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España