Descripción de la Exposición Os trabalhos que Dudi apresenta agora não se oferecem sem alguma dose de estranheza, derivada do fato de ao mesmo tempo serem e não serem pinturas. Mas também não é possível vê-los sem a constante reposição de alguma familiaridade, estimulada, é claro, pela sensação de que se sabe, até certo ponto, a origem das imagens que exibem, mas, talvez, também pelo modo como as superfícies desses trabalhos comportam tais imagens. Os quadros de Dudi são indistintamente pintura e ecrã; são já as projeções de algum desenho animado que todo mundo viu, mas também são ainda os stills, as 'eurecas' na mesa de desenho que acabam de aquarelar o ar misterioso do primeiro enquadramento de uma possível história. Eles são, afinal, nem enormes nem diminutos, de um tamanho aproximado entre uma pintura meio grande e uma projeção meio pequena, de uma dimensão que concilia (porque não impõe decisivamente a quem os vê a dinâmica do 'de longe, de perto') a mancha do pincel e o depósito industrial da tinta. Mesmo porque, quem garantiria que a marca manual, a mancha, o borrão, não pertence também ao próprio vocabulário daquelas imagens que soam comuns ao universo dos livros infantis ou dos desenhos animados? Ou, ao contrário, que a imagem industrialmente assentada não pertence ao vocabulário maduro da pintura? A propósito desse hábito de se aproximar ou se afastar para saciar a curiosidade de como aquilo (ou a pintura, ou um objeto desconhecido) é feito, esses trabalhos possuem em comum um, por assim dizer, 'tema da espreita'. De repente, um relógio não encontrou sua vista privilegiada e toma de assalto todo o campo da visão, distendendo o móvel que o sustenta junto com a parede que o rebate; ou, então, só se tem ao alcance da vista aquele trecho muito próximo entre o chão e o vão aberto da porta. O que não deve ser menos ou mais instigante - e decerto esta é uma suspeita que esses trabalhos levantam - do que espreitar uma área escura de uma outra tela, sem saber ao certo o momento em que manchas irregulares insinuam formar algum objeto (uma vassoura debaixo da escada, ou... O que mais?) ou tendem a se exibir como elementos autorreferentes. Espiando dessa distância esgueiriça, talvez não exista necessariamente menos curiosidade no desvelamento ou na artificialidade dos mecanismos da representação do que o que pode resguardar a imagem do sótão de uma casa mal-assombrada - parecem dizer esses trabalhos que o artista vem minuciosamente fazendo e refazendo nos últimos tempos.
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España