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Black Market

Exposición / Paço das Artes [ESPACIO CERRADO] / Av. da Universidade, 1 - Vila Universitaria / São Paulo, Sao Paulo, Brasil
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Cuándo:
07 may de 2012 - 01 jul de 2012

Inauguración:
07 may de 2012

Comisariada por:
Mario Gioia

Organizada por:
Paço das Artes

Artistas participantes:
Paulo Almeida

       


Descripción de la Exposición

Paulo Almeida apresenta inspiradas pinturas na sua nova série, Black Market, nesta 10ª Temporada de Projetos do Paço das Artes. Mas os acontecimentos pictóricos não são o essencial na produção do artista paulistano. Como atestado nas variadas participações anteriores em alguns dos mais importantes mapeamentos de novos artistas em âmbito nacional _ o Rumos Artes Visuais, do Itaú Cultural, o Programa de Exposições, do Centro Cultural São Paulo, e o Cultura Inglesa Festival, por exemplo _, o sistema de arte, nas suas mais complexas ramificações, é o eixo por excelência de sua obra.

 

Provocativo é o mote do artista, já que a série Black Market é assentada no olhar da obra de arte não como linguagem e bem cultural, mas sim como capital. Explicando melhor: Almeida extrai da internet, de jornais impressos e de outros veículos de comunicação imagens que retratam episódios que colocam em relevo as transações criminosas e ilegais de obras de arte. Também não escapam do foco do artista registros históricos acerca do tema, como fotografias contidas em livros sobre a pilhagem nazista de bens do gênero, realizada em especial durante os anos da Segunda Guerra Mundial.

 

Tal mercado negro expõe o que Almeida continuamente investiga em trabalhos diversos. Apresenta a obra de arte como commodity, como um bem que faz girar engrenagens obscuras, a envolver uma franca atividade de círculos criminosos, corrupção robusta e salvaguardas falhas de instituições que teriam de zelar pelo patrimônio artístico-cultural da humanidade. Talvez a centelha do olhar crítico do paulistano tenha sido catalisada quando ele era monitor do MAB (Museu de Arte Brasileira), vinculado à Faap, e percebido que a maior parte das obras nunca vai sair da reserva técnica da instituição e ganhar a luz dos amplos espaços expositivos. Nisso, sua obra dialoga com a de outro jovem artista, o paulista Vitor Mizael, que também tem como um de seus vetores poéticos a discussão crítica a respeito de uma contraditória salvaguarda museológica e da exibição anacrônica de tal patrimônio.

 

Na sua última grande série, Reflecting the Collection (2011), o artista fez uma operação mais irônica, refletindo (no sentido de questionamento e também de espelhamento) telas-chaves (de valor cada vez maior, é preciso enfatizar) da coleção da Tate Gallery, como as de Mark Wallinger e de David Hockney (com representações tais quais as pinturas fossem captadas a partir de espelhos, com sentidos e direções invertidas, mas escalas e tamanhos idênticos), mostrando o interior mais 'visível' de uma instituição.

 

Já em Black Market, os registros revelam incompletudes e erros: há os espaços em branco de onde telas, desenhos e trabalhos variados foram retirados, ou seja, salas expositivas que têm sua principal função anulada; gatunos com o produto do furto e do roubo na mão, demonstrando o caráter apenas de mercadoria da obra de arte; e policiais e soldados, profissionais a priori alheios ao meio das artes visuais, devolvendo ao circuito institucional o que havia sido extraviado. Assim, a nova série incomoda por exibir, emulando imagens de baixa definição, uma ruptura num sistema que vende a ideia de ordem e organização, elitizado e não permeável a ações que maculam e contaminam. Em uma das pinturas, Almeida é provocativo ao utilizar uma das típicas fotos montadas por policiais de diversos setores, que, ao apresentar a recuperação de determinado bem ou moeda, dispõem cuidadosamente em mesa o produto reintegrado, em especial as cédulas organizadas em maços minuciosamente regulares. Neste caso, tais conjuntos vêm acompanhados de uma obra de arte, escancarando uma relação pouco lembrada e gerando uma fricção entre circuitos aparentemente distintos.

 

O desgaste da representação é outro dos temas caros ao artista, mas, pouco a pouco, tal abordagem é habilmente trabalhada por ele, ganhando contornos mais interessantes. 'Minha discussão não tem a ver com pintura', afirma ele. De todo modo, a renovação de jeitos de criar suas telas _como, por exemplo, em Olhe Quem Veio (2009), em formato circular, comentando os numerosos espelhos circulares de segurança em condomínios e estabelecimentos variados em São Paulo _ e, claro, seu conteúdo, fazem com que a obra de Almeida dê à pintura elementos contemporâneos de discussão. As telas fundamentadas a partir de registros de baixa definição o aproximam de bons nomes com abordagens similares, como Regina Parra, Rafael Carneiro e Felipe Cama, por exemplo, mas Almeida encontra mais eco em produções como o do mexicano Mario Garcia Torres, com análise pertinente no catálogo da 29ª Bienal de São Paulo. 'Recontextualizar certas narrativas esquecidas ou negligenciadas relacionadas à arte é uma estratégia empregada pelo artista não apenas para examinar a historiografia da arte, mas também para desafiar e ampliar o significado e as implicações de um único evento, situado em lugar e momento específicos.' Como Vilém Flusser alerta em O Mundo Codificado: 'O mundo codificado em que vivemos não mais significa processos, vir-a-ser; ele não conta histórias, e viver nele não significa agir'.

 


Entrada actualizada el el 26 may de 2016

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