Descripción de la Exposición
Casa Triângulo tem o prazer de apresentar "Antonio Henrique Amaral: Pelo Avesso", primeira exposição de Antonio Henrique Amaral (1935 - 2015) na galeria, com curadoria de Pollyana Quintella e Raphael Fonseca.
Múltiplo e polifônico, Antonio Henrique Amaral (1935 - 2015) empenhou-se em construir uma obra que resistisse a sentidos unívocos. Suas mais de seis décadas de produção nos legaram um percurso multifacetado que vem sendo matéria de revisões recentes através de ensaios e exposições monográficas que situam o artista para além das suas icônicas e emblemáticas Bananas, realizadas entre 1968 e 1975.
A mostra "Antonio Henrique Amaral: Pelo Avesso" se soma a este esforço ao estabelecer um recorte menos usual da produção do artista, interessada em recontextualizar trabalhos cuja centralidade é o corpo e suas mais variadas negociações. Veremos, ainda nos anos 1950 e 1960, obras em desenho e gravura - fundamentais para a formação de Amaral - que já apontam figuras antropomórficas deformadas e transfiguradas, pondo em crise os parâmetros de representação na busca por um gesto mais expressivo, fantástico e delirante. Em seguida, a pintura dos anos 1970 manifesta a fusão de máquinas e corpos, metais e vísceras, de modo a questionar os limites entre natureza e cultura e nos provocar a reconhecer o corpo permeado pela dimensão tecnológica. Mais adiante, os anos 1990 presenciam a série Torsos, com silhuetas alongadas, destituídas de qualquer identidade e suspensas no tempo e no espaço; enquanto os anos 2000 apresentam desenhos em composições que beiram os limites da abstração e sugerem fragmentos estilhaçados feito microrganismos em profusão, típicos dos exercícios de zoom in e zoom out tão bem explorados pelo artista.
Apesar das singularidades de cada época, é possível circunscrever o corpo enquanto eixo profícuo que atravessa a produção de Amaral, seja como pretexto para as mais variadas experimentações plásticas, seja como cerne da investigação dos limites do sujeito, sua identidade e seus embates políticos. Nesse trânsito, Amaral soube conjugar o pessoal e o político; o íntimo e o coletivo, numa obra transpassada pelas influências da cultura de massas, da cultura popular e pelos dilemas de seu próprio tempo.
Antonio Henrique Amaral (São Paulo, 1935-2015) iniciou sua formação artística em meados da década de 1950, estudando desenho com Roberto Sambonet na Escola do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e, em seguida, gravura com Lívio Abramo no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Realizou sua primeira individual, composta por gravuras, no MAM-SP em 1958, e expôs no mesmo ano também no Chile.
Convidado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para exibir suas obras na Pan American Union (Washington, D.C., EUA) em 1959, conseguiu na época uma bolsa da Ingram Merrill Foundation para o Pratt Graphic Art Center (Nova York, NY, EUA), onde estudou gravura com Shiko Munakata e Walter Rogalski. Foi na prática em gravura orientada por Abramo e Munakata que o artista adquiriu a disciplina necessária para lidar com diferentes materiais e técnicas.
Como resposta ao golpe militar ocorrido no brasil em 1964, Amaral passou a desenvolver uma obra de cunho explicitamente político e teor satírico, incluindo elementos da cultura popular e de massas, no que se destaca seu álbum de xilogravuras O meu e o seu (1967), então apresentado no Mirante das Artes (São Paulo), galeria em que era sócio Pietro Maria Bardi. O período também marcou o início de seu trabalho em pintura, tendo realizado entre 1968 e 1975 sua emblemática sequência de telas que problematizam o motivo da banana como símbolo nacional. No Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro de 1971, recebeu o prêmio de viagem ao exterior e seguiu para Nova York, de onde retornou em 1981. Outro destaque de sua trajetória é o Painel São Paulo – Brasil: criação, expansão e desenvolvimento (1989), instalado no saguão principal do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo, resultado de sua premiação em concurso.
No decorrer de mais de seis décadas de trajetória artística, Amaral apresentou seu trabalho em diversas individuais e coletivas tanto no Brasil quanto em países da América Latina, América do Norte, Europa e Ásia.
Suas obras integram diversas coleções públicas importantes no país e no exterior, como: The Metropolitan Museum of Art (The MET), Nova York, NY, EUA; Blanton Museum of Art, Austin, Texas, EUA; Art Museum of the Americas (AMA), Washington, D.C., EUA; Casa de las Américas, Havana, Cuba; Instituto de Arte Latinoamericano (IAL), Santiago, Chile; Latin American Art Collection, Essex University, Essex, Inglaterra; Museo de Arte Americano de Maldonado (MAM), Maldonado, Uruguai; Museo de Arte Moderno de México (MAMM), Cidade do México, México; Colleccion FEMSA, Monterrey, México; Museo de Arte Moderno de Bogotá (MAMBO), Bogotá, Colômbia; Museo Nacional de Arte (MNA), La Paz, Bolívia; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), São Paulo; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo; Museu de Arte de São Paulo (MASP), São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Rio de Janeiro e Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.
Seu trabalho tem sido extensamente discutido por críticos e curadores brasileiros e internacionais, como Paulo Miyada, Aracy Amaral, Jacqueline Barnitz, Damián Bayón, Sheila Leirner, Geraldo Ferraz, Vilém Flusser, Benjamin Forgey, Shifra Goldman, Ferreira Gullar, Casimiro Xavier de Mendonça, Maria Alice Milliet, Frederico Morais, Roberto Pontual, Bélgica Rodríguez e Edward J. Sullivan.
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Antonio Henrique Amaral: Pelo Avesso
by Raphael Fonseca e Pollyana Quintella
Multiple and polyphonic, Antonio Henrique Amaral strove to construct an oeuvre that would defy univocal interpretations. His more than six decades of production resulted in a multifaceted path that has been the subject of recent revisions by essays and monographic exhibitions that situate the artist beyond the works of his iconic and emblematic Bananas series, executed between 1968 and 1975.
This exhibition is a further step toward establishing an innovative view of the artist’s production, with the aim of contextualizing works centered on the body and its wide variety of negotiations. From the 1950s and 1960s, we see works in drawing and printmaking – fundamental in Amaral’s coming to be as an artist – which present deformed and transfigured anthropomorphic figures, tensioning the parameters of representation in the search for more expressive, fantastic and delirious gestures. His human figures appear in an increasingly molten form, as though they were about to melt away under our gaze. In the 1950s, he was constantly experimenting with the metamorphosis between a human body and an animal one, bordering on the unnamable – which is what we conventionally call “monstrous.” While in his drawings we become aware of the importance of isolated applications of color in his research, in his printmaking we see the artist experiment with different sizes and manners of appropriating the grain in the wooden printing blocks.
At the center of the largest room of Casa Triângulo, hanging from the ceiling, we are presenting various series of paintings produced between the 1970s and the 1990s, in which AHA takes a look at the human body, though in a more iconic way. Produced in the late 1970s, precisely in 1979, the series of paintings Máquinas [Machines], manifests the fusion of machines and bodies, metals and viscera, in order to question the borders between nature and culture and to spur us to recognize the body permeated by the technological dimension. The motion of these machines – which curiously resemble the weightlifting devices that became popular precisely in the 1970s – depends on a repetitive effort from the human body. It is difficult to observe this series of images and not sense the relationship with the most repressive years of the military dictatorship in Brazil. Torture machines or machines for disciplining the body? Is there any way to separate the two possibilities?
Curiously, when we observe others of his paintings featured in the exhibition and dating from the 1990s, the notion of body proposed by the artist is presented in a less hieratic and futuristic way, somewhat like a dialogue with the landscape, with the history of modern art in Brazil and, once again, with metamorphosis, but now from a botanical perspective. His Torsos series brings elongated silhouettes, bereft of any identity and suspended in time and space, while his paintings that allude to forests seem to cite and create narratives based on formal elements found in the production of Tarsila do Amaral, his distant cousin. In regard to a series of drawings from the 2000s, also present in this room, it is interesting to note how the images seem to deepen his interests from the 1990s through compositions that border on the limits of abstraction and suggest shattered fragments that recall myriad microorganisms, typical of the exercises of zoom in and zoom out which the artist used to great effect.
Last but not least, in the gallery’s second space – with a low ceiling height and more intimist character – the body is shown in a more explicitly political key through a selection of works from the 1960s, the period when the military dictatorship arose in Brazil. Through images with a pop art aspect and a frank dialogue with mass culture so well represented by comic books and cinema, the artist produced some iconic works where mouths play a central role. The mouth that speaks, the mouth that screams, the mouth that executes – the gaze of the artist who, far from passionate denouncements, also weaves a commentary on militarism, oppression and the telephone calls responsible for so many “erasures.”
By way of a spatial distribution which takes place not only on the walls of Casa Triângulo, but also in the occupation of its monumental space, Antonio Henrique Amaral’s different phases and interests converse with one another ethereally yet obsessively. We hope that as the visitor walks through the space he or she will perceive not only the artist’s insistent gaze on the human body, but also the experiments by which it was reinvented through drawing, printmaking and painting. We are especially interested in visitors being able to contemplate Amaral’s work “inside out” – reflecting on his research as a creator of images that extended far beyond his celebrated paintings that situate bananas as phantasmagorias of tortured bodies. Curiously, we believe that many of the images gathered here are relevant to the growing interest in figurative painting and its potential for twisting, as is currently being explored by young artists in Brazil and worldwide.
May this ephemeral gathering of works allow us to learn more about the artist, his different nuances and temporalities, and, clearly, about our own bodies and our inside-outnesses.
Exposición. 13 dic de 2024 - 04 may de 2025 / CAAC - Centro Andaluz de Arte Contemporáneo / Sevilla, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España