Descripción de la Exposición
Andar pelas bordas: bordado e gênero como práticas de cuidado
Para o Telmo
O verbo “bordar” carrega consigo múltiplos significados. Muitas vezes identificada, erroneamente, como uma prática apenas feminina, a atividade variou bastante ao longo da história, sendo executada tanto por mulheres como por homens: bordados serviram para decorar residências, cobrir os tetos das casas, vestir crianças e adultos, anotar a passagem do tempo, criar cortinas que vedam o público do privado, tecer cobertas e, assim, agasalhar e proteger as pessoas das intempéries do tempo. Funcionaram, também, como atos eminentemente coletivos e políticos, inserindo-se nas bandeiras e nas faixas de grupos insurgentes, mas também como parte de manifestações de auto-orgulho organizadas por grupos de identidade. Nesse sentido, foram desenvolvidas nas “bordas” do sistema.
De uma maneira ou de outra, essa foi sempre uma atividade de “cuidado”; consigo mesmo, com os familiares, com a comunidade. Todavia, por conta de sua associação estereotipada ao universo feminino, essa arte acabou naturalizada dentro da hierarquia presente no cânone ocidental, sendo entendida como um gênero menor e vinculada ao espaço da domesticidade. Afinal, pensados nesses termos, os bordados não passariam de ornamentos e, sendo assim, secundários.
Andar pelas bordas questiona essa tradição para, assim, subvertê-la e, ao mesmo tempo, tratar de ressignificar essa arte. Em diálogo com outras mostras que abordaram o tema, a exposição apresenta o trabalho potente de 47 mulheres artistas, e que, emprestando as palavras de Cecília Meirelles, encontram-se “unidas como um fio de pano”. Aqui, “unimos” mulheres de diferentes gerações, raças sociais, regiões e momentos na carreira, todas atravessadas pela técnica do bordado, que produz, com sua beleza e força, novas realidades.
A intenção é explorar a riqueza e a diversidade de expressões do bordado, fazendo uma homenagem às mulheres artistas, tantas vezes excluídas das histórias da arte ocidentais. Nestes tempos tão sem tempo, dizem que é preciso levar a vida como um bordado. Bordando a vida.
Lilia Moritz Schwarcz | Curadora
Exposición. 12 nov de 2024 - 09 feb de 2025 / Museo Nacional Thyssen-Bornemisza / Madrid, España