Descripción de la Exposición
O mestre Isaclino Palma é um ceramista de Beja que dedicou grande parte da sua vida traduzindo no barro as cenas do cotidiano bejense, imagens sacras, lendas, bustos de pessoas comuns e personalidades. No dia em que eu o conheci ele me fez a seguinte proposta: "Eu quero ensinar vosmecê a fazer um busto!" Esta ideia que saiu da cabeça do Isaclino me fez idealizar um novo trabalho. Logo, perguntei ao mestre se ele aceitaria fazer o meu busto em barro, e que eu também o retrataria noutro busto. Aceitamos os convites e iniciamos as sessões de modelagem das cabeças, partilhando conversas, histórias, técnicas e visões. Os bustos foram construídos separadamente e, posteriormente, conectados enquanto o barro ainda estava húmido. Esta operação transformou os bustos independentes numa só peça, reunindo num único corpo os nossos estilos e visões. Desta forma, expressou-se no barro o olhar do mestre Isaclino sobre mim e vice-versa. O mestre tinha 92 anos e eu, na época, tinha 29.
Voz da Terra No Alentejo, expressa-se uma forte tradição musical, particularmente identificada pelo cante alentejano. Esta tradição foi passada pelos camponeses ao longo de gerações, enquanto trabalhavam nos campos da região. Hoje, embora cada vez menos, ainda se houve o cante espontâneo em associações, tabernas e cafés. Após ouvir o cante enquanto jantava na Tasca dos Caçadores, em Montemor-o-Novo, comecei a produzir a escultura sonora intitulada Voz da Terra, composta por cinco grandes pulmões de cerâmica. Para construir estas peças utilizei o barro recolhido no município de Vendas Novas, no Alentejo. São pulmões de pura terra alentejana que entoam o som daqueles camponeses que também buscavam na terra o sustento dos seus corpos. Do interior de Voz da Terra, pode-se ouvir as modas do cante alentejano gravadas com o Grupo Coral Fora d’Oras, aqueles mesmos cantadores que conheci na tasca em Montemor-o-Novo.
Projeto vencedor do concurso para a residência artística Tradição
Coração do vinho. No passado, Beringel possuía cerca de 30 oleiros em atividade. Atualmente, o mestre António Mestre é o único que se dedica a este ofício da olaria nesta localidade. Quando criança ia com o seu pai e um burro ao campo cavar o solo. Assim, herdou a profissão e aprendeu a reconhecer o barro bom a olho. Ainda hoje a recolha do material segue o mesmo processo. Nos meses de verão, António Mestre vai ao barreiro buscar o barro para construir os potes, os jarros e as talhas para produção de vinho. Assistir ao barro bruto girando sobre a roda do oleiro, até transformar-se em talha, é perceber que do trabalho mestre António Mestre nascem corações. Cada talha é o imenso coração onde circula o vinho.
No vídeo intitulado Pão Coração, o crescimento da massa levedada aparece como a sístole e a diástole, movimentos que foram associados ao som do relógio da minha cozinha em Évora, numa interpretação que reforça a noção da casa como um corpo, composto por seus órgãos/objetos e membros/ cómodos.
Anatomia Regional
Abordando dois conceitos principais “o corpo e a tradição do Alentejo” Eduardo Freitas investiga o tema da anatomia humana, através de imagens de órgãos, ossos e sons do organismo. Já os aspetos do Alentejo são representados pelos seus elementos culturais, materiais e valores históricos, como o pão, o cante alentejano e as relações sociais dessa região.
Para a realização dos trabalhos, o artista recorre a diferentes linguagens artísticas – escultura em cerâmica, objeto, instalação sonora e medias digitais, resultando numa produção híbrida, que aproxima recursos atuais e técnicas tradicionais.
Biografia | Eduardo Freitas
Eduardo Freitas nasceu a 2 de Maio de 1990, em Ponta Grossa, Paraná, Brasil. É doutorado no curso de Arte Contemporânea da Universidade de Coimbra (Bolseiro FCT). Mestrado em Práticas Artísticas em Artes Visuais (2019), na Universidade de Évora. No Brasil, licenciou-se em Escultura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2012), e especializou-se em Poéticas Visuais (2014), pela mesma instituição.
Nos últimos anos realizou diversos projetos de criação em residências artísticas, como o projeto “En.talho” (2021), desenvolvido na Associação Pó de Vir a Ser / Departamento de Escultura em Pedra – Évora; o projeto “Anatomia Regional” (2018), vencedor do concurso para a residência artística “Tradição>
Exposición. 19 nov de 2024 - 02 mar de 2025 / Museo Nacional del Prado / Madrid, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España