O fascínio de um céu de estrelas induz a impressão nostálgica de uma ocorrência fugaz, da impossibilidade da permanência no mundo. Empenhada em salvar-se da evanescência, esta consciência da erosão no tempo que passa, do instante da existência, acende a pulsão em lembrar e ser lembrado. Ferindo, e destruindo, a fotografia de um tempo ido e íntimo, em Álbum de família, Carla Cabanas move-se, num campo que envolve o fixo e o volúvel. Com o pó que sobra do que nasce e morre, do que passa, Carla Cabanas funde reminiscências do acontecimento da vida e das estrelas em minúsculos recortes que inscreve num céu novo. Construindo uma outra estória, a poesia visual de Carla Cabanas torna claro o indistinto, próximo o longínquo, e dá a ver, afinal, que o trivial é precioso, e que o mundano é transcendente. Ricardo Escarduça