This is water. É o título de um discurso de David Foster Wallace aos finalistas de 2005 da Universidade Kenyon, nos EUA[1]. Trata-se de um discurso em larga medida autoconsciente quanto ao que um discurso de formatura deve ser, revendo alguns dos clichés e convenções do género, como a tradicional parábola de sentido didáctico: Dois jovens peixes estão a nadar e cruzam-se com um outro peixe, mais velho, que os saúda: “G’morning boys, how’s the water?”; os dois peixes olham um para o outro, e um deles pergunta “What the hell is water?”.
Tal como um discurso de formatura, uma folha de sala é um formato bastante convencional. Se por um lado, parece ser obrigatório atrelar-se uma folha de sala a um conjunto de quadros na parede, por outro, é um objecto altamente descartável e, arriscaria mesmo, olvidável. Afinal, quantos de nós vão a uma exposição e, automaticamente, pegam na folha...de sala, dobram-na em dois ou em quatro, e de seguida metem-na no bolso? (Talvez alguns tenham acabado de fazer isso agora mesmo). É um automatismo.
O sentido do discurso de David Foster Wallace é de que é importante fazer o esforço consciente de evitar os automatismos. Sobretudo naquilo que, aparentemente, a vida tem de mais óbvio e trivial. Os incidentes e insignificâncias do dia-a-dia, as filas de supermercado, os engarrafamentos no trânsito, a poluição, toda a dor, tédio e frustração que acarretam são, propõe Foster Wallace, feitos exactamente da mesma matéria de que são feitas as estrelas, participam da “unidade mística que, bem lá no fundo, subjaz a todas as coisas”. Lembrar que isto é água consiste, portanto, numa escolha consciente de cada um e no esforço “nada sexy” de evitar cair na programação por defeito, no modo automático.
Entrada actualizada el el 08 may de 2019
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