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A Ira Ria

Exposición / Galeria Raquel Arnaud / Rua Fidalga, 125 - Vila Madalena / São Paulo, Sao Paulo, Brasil
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Cuándo:
07 jul de 2022 - 03 sep de 2022

Inauguración:
07 jul de 2022

Organizada por:
Galeria Raquel Arnaud

Artistas participantes:
Carlos Nunes

ENLACES OFICIALES
Web 

       


Descripción de la Exposición

No Arcs Nules, de Carlos Nunes Conduzida à França, mais precisamente a lembranças do emblemático Arc de Triomphe, ao mesmo tempo origem e antípoda de “a torre da derrota”, obra que protagoniza a presente exposição, percebi que talvez tudo já estivesse inscrito, ainda que embaralhado, em “no arcs nules”. Esse é o nome que me atrevo a dar, de forma bem humorada, a “a torre da derrota” de Carlos Nunes, tentando acompanhar, mas sem o mesmo talento, os passos do artista. Só ida, adiós A “a torre da derrota” é uma obra em trânsito que o artista constrói, ou melhor, monta e desmonta, em pontos específicos do trajeto de São Paulo a Brasília. A saber, uma cidade muito pequena, rural, no interior de São Paulo, com pouquíssimos habitantes; uma cidade midiática, porém esvaziada, fonte de fortes disputas políticas e religiosas na atualidade, e a capital do país, cidade tombada pela Unesco como exemplar da arquitetura moderna. A obra se faz, o tempo todo, por meio de movimentos que se contrapõem àquilo que entendemos como monumento. É precisamente esse sentido de negação e afirmação do contrário que, a meu ver, engendra o trabalho. E é isso que me instiga a pensar na palavra nulo (no arcs nules) como o resultado preciso de duas operações diametralmente opostas: fazer um monumento que destrua todas as características de um monumento. A torre é erguida rapidamente, por meio de um sistema prático de andaimes que se encaixam, bastando duas ou três pessoas para montá-la. Seu tempo de duração é mínimo: aproximadamente um dia, tempo de seguir viagem rumo a outra cidade. Por isso mesmo é vista por poucas pessoas e não chega a configurar um marco histórico ou presença coletiva na comunidade em que se instala. Desmontada, ela cabe numa pequena carreta, acoplada a um veículo comum. Sua forma portátil e dinâmica visa ao deslocamento e não à permanência. A ênfase na impermanência pode ser vista na lona que envolveu a estrutura da torre durante o trajeto, e que guarda marcas desse percurso, e no andaime que erguia o letreiro: ambos comparecem à exposição como testemunhos desse trânsito. Como substratos que absorvem o tempo dilatado e o espaço sempre fugidio em que a torre habita (a estrada, o entre). A torre não é encomenda do Estado, mas fruto do arbítrio exclusivo de um indivíduo, o artista. Os andaimes – usados no processo de construção de obras de engenharia e retirados depois que elas se concluem – ao lado do MDF cor de rosa, que usualmente recobre fachadas de edifícios em construção ou reforma, acentuam seu caráter provisório. Os letreiros com os dizeres “a torre da derrota”, em mais uma operação de oposição, não mostram as letras, mas seu recorte vazio numa placa. E evocam peças publicitárias a anunciar uma marca ou um espetáculo que chega à cidade, e não uma forma oficial de comunicação política. E a última, e talvez mais relevante, contradição que a torre estabelece com a ideia já enraizada socialmente de monumento é o fato de celebrar um revés (e não uma vitória, fato ou personagem importante). Esse jogo dos contrários está presente em todas as obras da exposição. Verifica-se na constância da pesquisa do artista com palíndromos, palavras ou frases que, como “a torre da derrota”, podem ser lidas também de trás para frente. Ler ao revés, ler na contramão. Ou na alternância de letras que se repetem, em outra ordem, formando palavras diferentes que somos instigados a relacionar. O conjunto de desenhos “ocos” elabora de muitas formas a grafia dessa palavra, oca, curta, porém muito aguda ao sintetizar relações entre cheio e vazio, preenchido e “em branco”, fundo e figura. A obra “osso” é um serigrafia com a palavra de quatro letras impressa em quatro partes. Quatro papéis que nos convidam mentalmente a mudar suas posições – também vendo-as pela frente e pelo verso – sem que a palavra mude. Em “metem / matam / matem / metam” e “god / dog”, como na “torre”, o mecanismo inventado pelo artista tem a forma de uma cruz, ou encruzilhada. Mas nelas as palavras se modificam de acordo com o caminho que o olho escolhe percorrer. Sempre há chance de olhar de novo e descobrir no mesmo uma outra coisa, que já estava lá. Já em “rever / rir / reviver”, a forma escolhida pelo artista foi a sobreposição das palavras. Os verbos parecem já pressupor, de certo modo, a reação diante dos trabalhos. Rever: ver de novo, mais uma vez, conferir. Reviver: começar de novo, buscar outras palavras, procurar significados diferentes. E rir, ao descobrir o mecanismo ao mesmo tempo simples e versátil, que permite que diversos sentidos surjam a partir de um conjunto resumido de unidades-letras: as vogais E e I e as consoantes R e V. Em “omissíssimo”, outro palíndromo, a presença do espelho escancara essa vontade de colocar o espectador em cena. Como a perguntar pelo endereçamento desse “não se pronunciar” sobre aquilo que está lá. Quem consegue ver? Quem vê e deixa de dizer que viu? Sob que ponto de vista algo aparece? O que aparece é sempre o mesmo, ou muda? Esta última pergunta nos joga à dimensão temporal fortemente presente em alguns dos trabalhos. E no “diário”, formas geométricas espaciais feitas durante a pandemia, com a sobreposição e colagem de jornais do dia, permitem ver apenas as notícias da última camada – embora as outras notícias também estejam lá e sejam responsáveis por determinar as formas sólidas daqueles objetos, nós sólidos que condensam a passagem do tempo. Aterra / arreta: reatar Voltando à torre, peça fundamental da exposição, podemos dizer que ela aterra, no sentido em que um avião o faz, em um ponto entre sua origem e seu destino. Arreta, no sentido de suspender seu movimento. Recolhendo-se de novo e seguindo outro rumo. O percurso marca um traço no mapa do Brasil, como a reatar um ponto a outro. Não incorpora imediatamente o formato do arco, como seu antípoda francês que o faz de modo literal reproduzindo a entrada em uma cidade conquistada. Mas, de certo modo, traça um arco invisível, imaginado e concebido por cada visitante num desenho que vai da capital paulista à capital do país. Do espaço habitado pelo artista ao espaço simbólico da nação. Uma imagem que reata um Brasil vivido a um país-nação sempre abstrato. E que, por hora, ocupa novamente, mas pela primeira vez, já que não foi mostrada publicamente aqui, seu ponto de partida. O ponto de partida e também o ponto de chegada. Thais Rivitti


Entrada actualizada el el 30 jun de 2022

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