Descripción de la Exposición
O Museu de Arte do Rio Grande do Sul tem o prazer de convidar, dia 07 de março, terça-feira, às 19h, para a exposição “A Fonte de Duchamp: 100 Anos da Arte Contemporânea”, com curadoria de José Francisco Alves. A mostra tem o objetivo de marcar os 100 anos de Fonte, obra icônica de Marcel Duchamp (1887-1968), considerada uma das obras de arte mais importantes do Séc. XX. A entrada é franca.
A Fonte foi um passo adiante nas experiências de Duchamp, no que ele chamou de readymade (algo como “objeto-pronto”), trabalhos feitos com peças industrializadas, simplesmente escolhidas pelo artista por sua beleza. Extraídos do contexto funcional original e considerados como obra pelo simples ato do artista em dar-lhes títulos e exibi-los como arte.
A provocação de Duchamp, a par de todas as teses, histórias e especulações que giram em torno do readymade, com o tempo reverberou e foi adquirindo maior importância. Em especial a partir da década de 1950, com a Pop Arte, e, definitivamente, nos anos 60 e 70, do Minimalismo à Arte Conceitual, formando assim a base dos problemas do que hoje entendemos como Arte Contemporânea.
A provocação, o humor e, principalmente, a elaboração mental como características da arte contemporânea tem em Duchamp a sua origem. Muito dos aspectos construtivos da obra de arte nos últimos 60 anos têm nos readymades seus precedentes fundamentais: a apropriação de coisas pré-existentes e o uso de técnicas industriais na feitura – ou montagem – das obras. O artista, assim, deixa de fabricar ele mesmo o trabalho, não o faz manualmente, somente elabora a obra de arte.
O MARGS e a efeméride
Neste ano de 2017, em vários lugares do mundo, assinala-se em museus e instituições artísticas a passagem de um século do trabalho mais famoso de Marcel Duchamp. Ao mesmo tempo, alcança nada mais do que 100 anos a própria arte contemporânea. Nesse sentido, o MARGS, ao homenagear o gesto deste artista com a sua Fonte, o faz ao exibir uma seleção de obras de seu acervo em arte contemporânea, mostrando que o museu também se ocupa em colecionar a arte presente, necessária para o diálogo com a história da arte no Rio Grande do Sul e no Brasil.
São cerca de 108 obras de 51 artistas do acervo. Trabalhos relacionados a características duchampianas, tais como o caráter objetual, a apropriação de materiais e coisas preexistentes, a elaboração mental e não manual dos objetos, o humor, o jogo, a provocação.
A Fonte de Duchamp: 100 Anos da Arte Contemporânea
Exposição de Acervo do MARGS
Em 2017, completa-se 100 anos da mais importante revolução do Séc. XX, a Revolução Russa. Na arte, um feito mostrou-se ter uma sobrevida mais longa, a efeméride daquela que é considerada por muitos a mais importante obra de arte moderna. Um objeto que, há um século, já continha em si boa parte das questões do que agora chamamos de Arte Contemporânea. E podemos dizer que foi, assim, o seu início, não em período, mas como marco no surgimento dos problemas e procedimentos artísticos que hoje conhecemos muito bem. Esta obra chamava-se Fonte, criada pelo francês Marcel Duchamp (1887-1968), em abril de 1917. O mais impressionante na história desta famosa obra de arte é que ela jamais foi vista pelo público, pois nunca foi exibida e desapareceu logo depois de sua criação.
Desde 1913, Duchamp fazia experimentos vanguardistas os quais mais tarde chamou de readymades, alguma coisa entre uma brincadeira, provocação e reflexão teórica, sem o objetivo de serem exibidos. Em 1915, o artista radicou-se nos Estados Unidos, inserindo-se num centro mundial importante e longe dos horrores da I Guerra Mundial. Em 1917, este enxadrista aficionado pelas jogadas arriscadas resolveu provocar ainda mais. Ele enviou Fonte, aquele que era o seu mais recente readymade, para ser exibido na Primeira Exposição Anual da Sociedade de Artistas Independentes, sediada em Nova Iorque. Duchamp era também um membro-fundador desta entidade, cujo objetivo era organizar mostras para divulgar trabalhos dos associados.
Fonte era nada menos do que um simples mictório industrial de porcelana, comprado dias antes, em conluio com outros dois colegas da sociedade, na loja J. L. Mott Iron Works, localizada na Quinta Avenida. Sob o pseudônimo de “Richard Mutt”, Duchamp pegou o urinol e transformou-o em obra de arte apenas com dois procedimentos: girou a peça em ângulo de 45 graus da posição original (ficando a parte da parede do mictório repousada sobre uma base) e simplesmente a assinou – “R. Mutt, 1917”. Mas a obra foi recusada pelos organizadores da exposição, inaugurada em 10 de abril de 1917. Porém, a consequência de sua provocação polêmica, o desafio ao mundo da arte, foi o que alçou Fonte à canonização artística.
Ainda sem saber-se de público que R. Mutt era, em verdade, um dos conselheiros da entidade, nas discussões da Sociedade de Aristas Independentes Duchamp não aceitou a recusa da inscrição de Fonte. Afinal de contas, o escopo da mostra era justamente a liberdade artística, cujo regulamento era, simplesmente, “sem júri, sem prêmios”. Para participar, bastava aos artistas pagarem 6 dólares para inscrever-se na sociedade, com direito a participar da exposição. Com a polêmica, Duchamp e seu melhor amigo, Walter Arensberg, renunciaram a seus postos no conselho da entidade.
Para marcar a intenção do “Sr. Mutt”, um desafio ao conceito de liberdade da Sociedade de Artistas e ao sistema de arte, foi publicado um texto, em tom de manifesto, no número 2 da revista The Blind Main (16 pág., maio 1917), da qual Duchamp era um dos editores. “The Richard Mutt Case” explicitou o objetivo do envio de Fonte para a exposição e o significado da obra e da atitude do artista. Na página anterior constou uma fotografia da obra feita por Alfred Stieglitz, em sua galeria-ateliê, a única reprodução feita da peça original. Após isto, Fonte sumiu completamente, pois nem Duchamp se interessou por ela nos anos seguintes, passando o artista a propor mais provocações, sem se importar, pelo menos por enquanto, com a permanência física dos readymades.
A provocação de Duchamp, a par de todas as teses, histórias e especulações que giram em torno do readymade, de Fonte e dos demais, com o tempo reverberou e foi adquirindo maior importância. Em especial a partir da década de 1950, com a Pop Arte, e, definitivamente, nos anos 60 e 70, do Minimalismo à Arte Conceitual, linguagens que formam a base dos problemas do que hoje entendemos como Arte Contemporânea.
As provocações ao sentido estético que vemos na arte do Séc.XXI, em especial a elaboração mental como característica maior da arte contemporânea, tem em Duchamp a sua origem, em vários aspectos. Muito dos procedimentos construtivos da obra de arte nos últimos 60 anos tem nos readymades precedentes fundamentais: a apropriação de objetos (coisas pré-existentes) e o uso de técnicas industriais na feitura – ou montagem – das obras. O artista, assim, deixa de fabricar ele mesmo o trabalho, não o faz manualmente, pois somente elabora a ideia contida na obra de arte. A arte como elaboração mental, sem que o artista faça a obra com as próprias mãos.
Há que se ponderar que Fonte e os demais readymades tinham como objetivo sacudir o meio das vanguardas, naquele contexto das primeiras décadas do Séc. XX. Propunha uma ideia ainda mais desafiadora do que apresentavam as experiências mais radicais, há 100 anos atrás (Cubismo, Futurismo, Suprematismo, Dada, etc.). Em especial, queria colocar em xeque a condição da criação artística e o sistema de arte: afinal de contas, quem decide o que é arte? Quais os limites da arte? Passou-se 100 anos e vemos que esta problemática é praticamente uma premissa da arte contemporânea.
E o sistema de arte, com o tempo, não só não se sentiu incomodado com a provocação de Duchamp, como a canonizou. Hoje existem nada menos do que 16 Fontes refeitas (alguns chamam de réplicas) com a autorização do artista, nos anos 50 e 60, em museus e coleções das mais importantes pelo mundo. Obras sacralizadas, que ocupam a vigilância e os cuidados de poderosas instituições, centro de atenção dos respectivos acervos. Sem contar como atrativo de vandalismo organizado, como forma de denúncia desta condição a que dizem, os incomodados, ter “subvertida” a antiarte original de Duchamp.
Neste ano, em vários lugares do mundo, temos em museus e instituições artísticas o registro da passagem de um século de Fonte. Nesse sentido, o MARGS se junta as diversas homenagens ao centenário da famosa e polêmica obra. A iniciativa também visa chamar a atenção ao fato de que o MARGS também se ocupa em colecionar a arte do presente, numa política de acervo absolutamente necessária ao diálogo das gerações com a história da arte do Rio Grande do Sul e do Brasil.
São cerca de 108 obras de 51 artistas do acervo, cujos trabalhos relacionam-se aos procedimentos propostos pelo universo duchampiano, em especial aos readymades. As obras escolhidas assim apresentam características variadas com a herança de Duchamp: trabalhos de caráter objetual, apropriação de materiais e coisas preexistentes, elaboração mental e não manual dos objetos, o emprego do humor, jogo, provocação ou mesmo novos entendimentos acerca das “técnicas” artísticas.
A título de exemplo, temos obras no acervo do MARGS a partir da apropriação de objetos industrializados, uma máxima da arte contemporânea de DNA duchampiano, artigos do cotidiano escolhidos pelos artistas e recolocados em novas situações, com pouca ou nenhuma interferência. Isto podemos observar nas obras de Sandro Ka, Almandrade, Eleonora Fabre, Jac Leirner, Leonardo Fanzelau, Leandro Machado, Lia Menna Barreto, Rommulo Conceição, Shirley P. Leme, Telmo Lanes, Teti Waldraff e Tridente. Claro que isto se refere a uma escolha (apropriação) como procedimento “técnico” para os artistas comunicarem suas ideias, que podem ser mais simples ou mais complexas, e tais trabalhos não se resumem a somente isso; A apropriação pode ser também levada a graus de elaboração plástica mais elaborada, como as costuras de Felipe Barbosa, ou mesmo como suporte para o objeto novo, em funcionalidade original reinterpretada, a exemplo dos livros-de-artista de Teresa Poester e Waltercio Caldas.
A apropriação de imagens já existentes, industrializadas ou não, podemos ver em obras de Albano Afonso, Neca Sparta e Rochele Zandavalli, as quais apropriam-se e transformam fotografias antigas ou imagens de outras obras em suas próprias poéticas. O trabalho fotográfico autoral, linguagem que mais cresceu na contemporaneidade, pode também ser encarado como um objeto, como o faz Gilberto Perin e mais ou menos Mário Röhnelt; Ou ainda, quando uma fotografia disseca objetos reais ou os apresenta fracionados (colagens), inusitados, como em Andrei Thomaz, Fabio Del Re, Cibele Vieira e Emilia Sandoval; A fotografia nos interessa também ao nível do tema, quando um objeto por meio da foto adquire vida ou “personalidade”, a exemplo de Dione Veiga Vieira e Gilberto Perin.
Jogos visuais, jogos mentais e esquemas, são fixações de Duchamp que remetem de alguma forma aos trabalhos de Romanita Disconzi, Rui Macedo e Juan Urruzola; Objetos construídos, montados com o uso de objetos apropriados, são as premissas de Ana Norogrando, Didonet Thomaz e Avatar Moraes, ou construtivos em sua própria natureza, a exemplo de Saint Clair Cemin, Mauro Fuke e Cláudio Maciel; Em Gaudêncio Fidelis, o caráter objetual interfere no universo da museografia e vice-versa; “Objetos moles”, um tema que já foi assunto de livros e ensaios, podemos ver em Charles Long, Mona Hatoum, Fernando Lindote e Otto Sulzbach, os quais tem nas pinturas “moles” de Peter Fox seus correspondentes de parede, bem como sua antítese, nas pinturas “duras” de Dudi Maia Rosa.
Um mundo variado de objetos reais e fictícios podem ser retratados no desenho ou na pintura, como os verbetes de Fernanda Martins Costa, o Cristo Redentor de Fernando Baril, os projetos de Jander Rama e nas cartografias de Marina Camargo e Daniel Escobar; Objetos apropriados como suporte para pintura ou desenho observamos nas latas de tinta de Britto Velho e nas embalagens de medicamentos de Carlos Asp; Por fim, a arte cujo suporte acaba por assemelhar-se às ciências: o catálogo de cores de André Petry, as embalagens “medicinais” de Alexandra Eckert e os itens “geológicos” para viagem, de Alfi Vivern.
Nestas 108 obras, não poderia ser diferente, temos variadas, simples e sofisticadas experiências artísticas, num universo de possibilidades que é uma das mais atrativas características da arte contemporânea, onde a cada dia os artistas testam ainda mais os seus limites. O primeiro a testá-los foi Duchamp, com seus readymades.
Curador
José Francisco Alves, Doutor em História da Arte, membro da AICA e ICOM*
Obras dos artistas
Albano Afonso Jac Leirner
Alexandra Eckert Jander Rama
Alfi Vivern Juan Urruzola
Almandrade Leandro Machado
Ana Norogrando Leonardo Fanzelau
André Petry Lia Menna Barreto
Andrei Thomaz Marina Camargo
Avatar Moraes Mário Rohnelt
Britto Velho Mauro Fuke
Carlos Asp Mona Hatoum
Charles Long Neca Sparta
Cibele Vieira Peter Fox
Cláudio Maciel Otto Sulzbach
Daniel Escobar Romanita Disconzi
Didonet Thomaz Rui Macedo
Dione Veiga Vieira Rochele Zandavalli
Dudi Maia Rosa Rommulo Vieira Conceição
Eleonora Fabre Saint Clair Cemin
Emilia Sandoval Sandro Ka
Fabio Del Re Shirley Paes Leme
Felipe Barbosa Telmo Lanes
Fernanda Martins Costa Teresa Poester
Fernando Baril Teti Waldraff
Fernando Lindote Tridente
Gaudêncio Fidelis Waltercio Caldas
Gilberto Perin
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