Descripción de la Exposición
A imagem não é a descrição de uma paisagem, nem de um rosto, nem de uma flor. Porque ela não se reduz à reprodução de uma realidade verosímil. Neste sentido, as imagens expostas nesta mostra expressam desejos latentes que procuram, através da transcendência, o recalcamento de certos traumas quotidianos. E, neste caso, os traumas no feminino. De facto, apesar destas aguarelas descreverem a beleza exterior da mulher /flor, o olhar indeciso e o sorriso pálido dissimulam alguma preocupação. As cores garridas, mas baças, deixam-nos percecionar o sabor de uma certa amargura.
Se estivermos bem atentos notamos que, estes quadros de Anabela Mendes, mais do que descritivos, são narrativas que transpõem a realidade nua e crua, para dar lugar aos sentimentos. Narrativas que nos fazem refletir sobre a substância humana. São sonhos sonhados que se transformam em devaneios existenciais. Por isso mesmo as mãos do pintor (da pintora) sonham. E o que sonham elas? A libertação do jugo masculino, que persiste na menina dos olhos bem abertos e contudo cegos de tanta displicência consentida. Na verdade, o que Anabela nos apresenta é o rosto da flor a par do rosto da mulher ou da donzela. E em cada flor há um olhar feminino que nos interpela e nos incomoda atirando-nos à cara a nossa indiferença conivente e secular.
Aqui e ali, o olhar das meninas e das flores deixa de ser sensual para ser sensorial. E então os nossos dedos afloram o veludo quente das cores, os nossos ouvidos ouvem o pestanejar das pálpebras, e das borboletas que pousam sobe o pistilo da flor, e o nosso coração perscruta os movimentos ousados dos lábios.
Tudo isto com os olhos nos olhos ou com os olhos nas pétalas.
Na convergência da flor e da mulher, eis a casa, lugar de acolhimento, de tranquilidade, de harmonia e de fecundidade. Útero por excelência da família e do lar onde os afetos vivem em plena liberdade. A casa é tanto o gineceu da flor, como o da mulher. O seu interior é protetor e o seu jardim o lugar da beleza e da cor.
Em suma, a cor que desenha o feminino não é mesma cor que o feminino desenha.
A cor que desenha o feminino é de um tom azul-esverdeado, portador de uma serenidade aparente, que se prolonga até ao infinito. Mas a cor que o feminino desenha é de um tom baço e inquietante onde o amarelo doentio se junta ao azul pardo para fazer vibrar os corações humanos mais masculinos do que femininos.
Formación. 08 may de 2025 - 17 may de 2025 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España