Descripción de la Exposición
A cor das escolhas
por Marcelo Campos
Os procedimentos de Marcus Vinícius apresentados na exposição "A cor das escolhas: amarelados, azulados, avermelhados, esverdeados, cinzentos e multicoloridos" apontam para a discussão de três bases conceituais: estrutura, ornamento e arbitrariedade.
A palavra estrutura tem um lastro na arte, na arquitetura e nas ciências sociais, se pensarmos, por exemplo, as prerrogativas de Le Corbusier "a forma segue a função" ou Mies van der Rohe "less is more". Ou no estruturalismo de Lévi-Strauss que previa o campo de observação, mapeando estruturas de parentesco, por exemplo, antes de conhecer propriamente seus habitantes. Porém, o Brasil subverteu a possibilidade dos roteiros, aceitou o fervor dos eventos, complexificou-se em anti-estruturas nas relações culturais, se direcionou, firmemente, ao ethos barroco, colonial, aos excessos, ao gosto pelas reproduções. E isto, hoje, se atualiza via importações e chinesices de todos os tipos, com produtos barateados e produzidos aos milhares.
Marcus Vinicius também se utiliza da produção industrial, mas, impõe-se uma regra, escolhendo apenas as "cores de catálogo". Ou seja, o artista atenta e procura contornar as veleidades do desejo e do gosto, que poderiam colocá-lo em infinitas combinações. Assim, as "estruturas quadro", como ele as denomina, evidenciam uma ambiguidade: a escolha e a regra. O minimalismo, por exemplo, em momentos mais radicais, não aceitava a cor que não fosse do próprio material. As corrosões do tempo ou o mais desumano polimento deveriam ser pré-produzidos, imaginados em projeto, gesto que configura uma herança construtivista. Em contraposição, a arte se direcionou à participação do público e acionou o imponderável das decisões. Muitas vezes, vemos trabalhos que apontam, firmemente, ao infinito modus operandi que, supostamente, faz o espectador co-agir, com-sentir, nos termos de Agamben, e completar a "parte maldita", explicitada por Bataille, justamente a que se direciona ao desejo, às escolhas incertas que o próprio artista desconhece.
No título expandido desta exposição, vemos Marcus Vinícius elaborar tais ampliações, estruturando a escolha das cores (azul, amarelo, verde e vermelho), porém, ampliando-as em sufixos ao radical dos nomes "amarelado, azulado...". Nos colocamos, então, a pensar em extensões, descendências, hereditariedades que, no caso específico, faz o artista optar, por exemplo, entre quatro tons de amarelo e dois ocres, restrito, como dissemos, ao catálogo pré-fabricado. Antes de tudo, devemos perceber que há dois modos de vincular as estruturas nas quais a obra do artista se referenda para tratar do primário das cores: o RGB (vermelho, verde e azul), característico da cor-luz, ou o CMYK (ciano, magenta, amarelo e preto), usados na cor-pigmento.
Luz e pigmento, assim, condicionam-nos a outras possibilidades de interpretação. A matéria, segundo o artista, continua presente e acrescida de subjetividade, pois há, na pintura feita a pincel sobre as placas de madeira e vidro, o corpo do sujeito. O corpo, parcela de humanidade na qual as subversões tornam-se inevitáveis. O corpo que se coloca a ornamentar, desenhar espontaneamente, criar volutas, arestas, rasgar, pichar os muros das cidades, atirar pedras nas vidraças. E a subjetividade que nos coloca diante da dúvida, algo tão impensável ao olharmos a produção das "estruturas quadro", mas que se tornou, também, como nos termos de Foster, a encruzilhada do minimalismo. Neste sentido, pensemos em Josef Albers e nas infinitas combinações que, antes da firmeza geométrica, nos afetavam em rascunhos, desenhos, esboços nos quais o errático das pinceladas humanizava a produção. Willys de Castro, de modo distinto, ativava o observador convidando-os a percorrer a obra. Ou, mesmo, em Volpi que agia na porosidade da têmpera, quando a expectativa seria pela cor pós-manufaturada.
Hoje, as escolhas arbitrárias fazem o mundo ultrapassar limites, possibilitando-nos, por exemplo, mexer na biologia, para o bem e para o mal, manipulando-se a própria natureza. Com isso, ao pensarmos em pinturas e livros, objetos mais próximos ao jogo entre bi e tridimensionalidade que Marcus Vinicius produz, podemos rememorar suas ancestralidades naturais: o cânhamo, o linho, o líber das árvores, as conchas que nos deram o púrpura, os metais produzindo os brancos. No avesso do que se pode perceber, Marcus Vinícius, que parece subsumir com o orgânico da matéria, muito ao contrário, aproxima-nos das escalas domésticas, dos objetos do afeto, dos alfarrábios, quadros, ecrãs. Hoje, cegamo-nos às estruturas das coisas que continuam nos acompanhando dia a dia, pois só confiamos em telas ligadas, oferecendo-nos a promessa de fundos infinitos, de mergulhos e saciedades. E suas estruturas, seus quadros, só se deixam observar quando os aparelhos estão desligados.
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España