Descripción de la Exposición As figuras que habitam as pinturas de Clemens Krauss não possuem rosto. Não conseguimos identificar quem são elas. Em muitos casos, apenas distinguimos o gênero. Mas essa suposta negação, nos faz crer que elas podem ser qualquer uma de nós. Há uma identificação às avessas. Ao obliterar o rosto enquanto possível foco da composição e dar ao óleo um tratamento borrado e impreciso, Krauss desvia a nossa atenção para o que é frequentemente visto como o centro psicológico da composição - o rosto humano - para outras partes e características da pintura. Suas pinturas parecem se desfazer, ao mesmo tempo em que apontam uma dinâmica própria e veloz ao óleo. Por outro lado, o artista promove uma concentração da tinta que faz com que a pintura ganhe um efeito óptico, como se ela estivesse saltando do plano para o espaço e quisesse conquistar uma tridimensionalidade. Esse acúmulo de óleo nos permite visualizar o modo como o artista traça suas linhas e constrói, com gestos vigorosos e tinta encorpada, uma atmosfera que remete a trágica contingência do sujeito. Aliado ao uso que faz da tinta, suas pinturas revelam um tom de conflito e violência, solidão e falência em suas pinturas. A forma como a sua pincelada, gestual e vigorosa, se impõe na tela associa-se perfeitamente ao próprio ambiente que cria em suas telas. Mesmo que parta de fabulações e ficções, existe acima de tudo um retrato íntimo e verdadeiro da relação (trágica) do sujeito em confronto com o mundo. É perspicaz como em uma mesma pintura, mesmo que ela seja preenchida por estórias isoladas ou fragmentos do cotidiano, Krauss nos surpreende com uma sintonia entre elas. Isolamento, agonia, tragédia, união, amor, dor, violência, circunstâncias ficcionais e reais tornam-se um amálgama sobre a compreensão e a existência do homem no mundo. A forma como equilibra esses 'corpos em ebulição' e o volume dos mesmos na tela, que é fabricado pela gestualidade empregada no uso do óleo, provoca dois momentos. O primeiro é que essas figuras parecem vibrar na tela. Elas saltam do plano e querem invadir a tridimensionalidade. Não se contentam em ser apenas imagens. O segundo momento diz respeito ao uso que faço da palavra 'ebulição'. Toda a pintura de Krauss está em movimento. Não só as ações de suas figuras mas a própria formação ou dinâmica de seus corpos. Nada está parado. É como se não houvesse tempo a perder, e ali de alguma forma estivesse presente - criticamente - uma das circunstâncias que mais aflige o homem moderno: vivemos cada vez mais cercados de informação e num transbordamento de imagens onde o excesso revela um dado paradoxal que se revela na desinformação ou no afogamento em dados inúteis, ou ainda em algo mais evidente que é a banalização da imagem (esta fica vagando num mundo onde ela não sabe se é um anúncio de publicidade ou uma obra de arte). É nesse momento que o seu trabalho se coloca. Ele opera exatamente contra essa automatização. Krauss nos indaga o que seria o tempo da ação. Não mais uma cena de sexo ou violência ou algo socialmente impactante, porque a ação pode significar também aquilo que sempre foi identificado como nada. Suas telas elaboram e fazem conviver lado a lado um cadáver, um animal e um homem lançando-se ao espaço. Elas parecem nos alertar que o tom surrealista e absurdo dessa ambientação, que poderia ser identificado como um 'nada', refere-se à própria circunstância da vida. A ideia de incerteza que ronda a pintura de Krauss cria um diálogo perfeito com o vídeo ER, feito em parceria com Benjamin Heisenberg. O filme documenta a vida de um personagem fictício conhecido como ER. Ele é um menino, descrito como psicopata, que chantageia seus pais com explosões de raiva e simulação de ataques epiléticos. Com tomadas feitas de forma amadora e uma edição que remete a colagens (circunstâncias que podem ser encontradas em sua pintura, em especial no tom 'errático' que neste suporte pode ser revelado na desordem ou no 'desfazer' dos corpos), uma voz gerada por computadorrelata a estória do menino, mas em várias passagens, o áudio não corresponde ao texto. Além disso, a total falta de emoção na voz digitalmente gerada contribui para criar a atmosfera de estranheza e dúvida. Um sentimento de hesitação sobre a pessoa descrita aos poucos consome o espectador, e nessa experiência que Krauss está interessado: pôr em dúvida as nossas certezas sobre o mundo, e afirmar a obra de arte como um enigma, uma imagem que necessita a todo o momento ser revelada e refletida pois as suas significações estão sendo constantemente refeitas.
Exposición. 19 nov de 2024 - 02 mar de 2025 / Museo Nacional del Prado / Madrid, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España