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Entre o Tempo

Exposición / Vera Cortês Art Agency [ESPACIO CERRADO] / Av. 24 de Julho, 54, 1º E / Lisboa, Portugal
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Cuándo:
23 sep de 2011 - 12 nov de 2011

Inauguración:
23 sep de 2011

Organizada por:
Galeria Vera Cortês

Artistas participantes:
Susanne S.D. Themlitz

       


Descripción de la Exposición

Num particular ecossistema serpenteia uma espécie de organismo indefinido, de complexa representação. Tem reminiscências biológicas, é silenciosa, alongada e tortuosa, num movimento dual que parece querer romper com seu substrato privado, apenas para posteriormente regressar. Há referências zoomórficas claras, porém uma dupla condição de inércia e de vida, aglutinada e letárgica, apega-se à vida para se concentrar no seu próprio volume. Tais organismos, alguns anelídeos aspecto, surpreendem-nos ao longo do caminho com diferentes morfologias, cores e materiais, apoiando-se nas instalações, sacralizando-as no solo na paisagem, capturando as paredes, formando frisos multi-semânticos, donos de um sonho próprio de conteúdo absorvido no seu envolvimento onírico e na sua esmagadora lentidão. Apesar de sua imprecisão, a plasticidade e a natureza regenerativa que envolve essas formas, aumenta o seu poder evocativo, porque desperta em nós. A solidão imiscui-se nesta engrenagem, e consciente da sua intangibilidade, Susanne Themlitz conceptualiza conferindo-lhe diferentes matizes e significados, a solidão absoluta, a solidão sossegada, hipnótica, asséptica, envolvente...

 

Mas se há um elemento definidor que conecta o espectador com esta paisagem insondável, e possivelmente com as ideias da artista é, na minha opinião, a figura humana. Humana?... Claro, desde logo as esculturas não manifestam uma fisionomia convencional. São misteriosos transeuntes sem rasto, corpos carentes de cabeça ainda que curiosamente pensantes e reflexivos, emblemáticos e poderosamente chamativos. As botas calçadas, longe de serem um acessório, constituem um elemento certeiro, que as faz aderir mais firmemente ao solo, ao mundo real, e salienta a componente errante de todos os seres humanos. O seu material maleável é provocatório e contém significados infinitos, desprovido de características faciais e de mãos, a sua animação e poder expressivo concentra-se nos seus contornos imaginativos e extraordinariamente eloquentes, que se expandem e contraem num mundo em suspensão, dividido entre o vazio e plenitude; entre a ascensão e a permanência.

 

Todo este universo, para o qual Susanne Themlitz reivindica transcendência e valores próprios, é concretizado e sublimado nas paisagens localizadas ao longo do espaço. São desenhos imbuídos de um lirismo forte que consubstanciam os conceitos que anteriormente referimos. Através do óleo, da grafite, da colagem, da aguarela ou de combinações destas técnicas, catalisa a energia e a melancolia; o que reflecte de perto a relação versátil e inclusiva de qualquer Ser com o Universo. Alguns deles são um verdadeiro tratado, em que cada linha se configura sobre o suporte como um acto poético, estruturando um desenho complexo e minucioso. Outros, por seu lado, recriam atmosferas regidas por uma magistral acção da cor, presente de uma forma evanescente e atemporal. Entre um sem fim de temas, de novo observamos o individuo, - frágil, dissecado e num processo de metamorfose -, mas também para o incomunicável paralítico em busca de sua lucidez; um insecto cuja importância se compara favoravelmente à de seres humanos, de cogumelos e de fungos fantasiosos, todos eles à mercê do ambiente, mas ao qual por vezes se impõem, casas acolhedoras e isoladas que cobiçam vivências e mistérios... É curioso como Susanne também se serve destes desenhos como referência à actividade artística que desempenha, pintando instrumentos e mesas de trabalho, desenhos e folhas em branco... mediante toda esta iconografia elabora uma meta-pintura que nos transmite também a evolução do seu esforço criativo.

 

Homens, animais, plantas, objectos e outros dispositivos operativos mas imprecisos, constituem um elenco variado de irrepetíveis imagens que dão vida a lugares de essência mitológica, onde cada personagem tem uma semelhança hierárquica. Montanhas, rochas e espirais eternas, amparadas por uma linha cuidadosa e tenaz, coexistem com representações tonais e abstractas, numa mesma dimensão concreta e intangível de água, terra e ar, em pacífico contraste com o peixe, o caracol e o próprio coração.

 

A força desta exposição transmite uma clara imagem da devoção que Susanne Themlitz tem pelo seu trabalho, apaixonada e incansável transcende realidades e configura universos experimentais. Nalguns casos, através de um jogo de raciocínio premeditado invoca o espectador que acompanha cúmplice, lançando luzes para protelar a sua compreensão e expandir a percepção.

 

Maria Ruiz Serrano

Nov. 2010

 


Entrada actualizada el el 26 may de 2016

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