Descripción de la Exposición
“Em 1975, perguntaram-me a razão do meu interesse em usar o vídeo e respondi que
me interessa trabalhar com o VT como um rascunho; ou às vezes como imagem que se presta a redundâncias (havia a possibilidade do looping), às vezes como discussão da arte ou do espaço, ou por vezes não me interessa absolutamente usar o VT no meu trabalho.
De certo modo, continuo a pensar assim, no sentido de que não necessariamente me interessar precisar ou determinar a priori o desdobramento do meu trabalho, comprometida apenas por seus meios técnicos, mas sim em termos da ideia, do conceito, isto sim, fundamental para mim. Não me interessa enfatizar o uso deste ou daquele meio no sentido de uma identidade de caráter técnico-ideológico de minha obra. Acredito que princípios e procedimentos estritos só tem significação artística se inseridos na totalidade das questões da arte. Se não me permito pensar de forma maniqueísta em relação as questões do mundo, menos ainda a aceito em relação ao território da arte. Quero dizer com isso que não pode haver na arte campo para fundamentalismos, pois suas questões devem se incorporar a um campo estético, com leis próprias.
Também com o uso do vídeo, do super 8, da fotografia, meu trabalho vai pela necessidade de uma ação performática, assumir diversas formas. Isso vai deslocar ainda mais as minhas indagações e incógnitas sobre o campo estético no qual eu possa desenvolver o meu trabalho.
Compreendo cada vez mais o significado dessas atitudes e intuições. Seria, entre outras coisas, a busca de uma maior possibilidade de indagar sobre um mundo em que as experiências individuais assumem cada vez mais um caráter coletivo. Isso no contexto da época.
Passei a utilizar no meu trabalho algumas noções, ideias vindas principalmente da Geografia Humana e da Linguística, esta última como parte de minha formação Universitária nos anos 1950. Seus repertórios, de teor ético-político irão influir no campo estético do meu trabalho e irão transformá-lo. Essa profunda necessidade de introduzir noções ainda desconhecidas, isto é, consideradas até então como alheias a arte, e por vezes mimetiza-las propositalmente no meu trabalho, é provavelmente, além dos possíveis sentidos polissêmicos contidos na obra, o de poder dar conta da realidade do momento. Realidade como o campo onde o artista é moldado pelo tempo em que vive e que, como artista, tenta refletir sobre essas contingências. Ao procurar apoio em outros modelos operativos, ao usar imagens eletrônicas não as considerei nem considero apenas como fatores externos à arte, mas sim como fundamentais para poder dar conta desta outra realidade. ]
Creio que o fundamental para o artista é uma compreensão da arte enquanto ideia e tentar constantemente compreender o porquê do desgaste e da perda de sentido de certas regras ou métodos que o artista considerava anteriormente válido, numa atitude de discussão e revisão inerente ao processo de relação do artista com a sua obra.
Romper com os seus próprios dogmas que só paralisam o pensamento, exige humildade e certa crença no sentido utópico da arte.
A única possibilidade da arte é ser experimental, e a única condição do artista é agir experimentalmente.”
Trecho retirado do depoimento de Anna Bella Geiger no livro MADE IN BRAZIL: Três décadas do vídeo Brasileiro, Arlindo Machado (Org.), 2003